quarta-feira, novembro 30, 2016

Cuidado com o falso ecumenismo


São Luis - Ma – 26 nov, 2016 - Com a crescente proliferação do ecumenismo, tem se criado novos meios de evangelização, e muitos destes meios, são falsos. O ecumenismo pregado hoje, é uma doença causada pela "teologia" da libertação. Este pseudo ecumenismo, prega noções contrárias as do Apóstolos, contrárias aos ensinamentos dos santos padres. O que hoje se chama de ecumenismo, é contrário aos verdadeiros estudos da Igreja, como, por exemplo, o que se pregava antigamente contra à Filosofia grega. São Basílio e outros eram desconfiados de tais filosofias contrárias à nossa fé. Tertuliano (150-225), deu voz, de forma a mostra um verdadeiro ecumenismo, à mais extrema forma de hostilidade para com o conhecimento grego ao defender sua completa conclusão do pensamento cristão, declarando que: 

O que tem de fato Antenas a ver com Jerusalém? Que concordância há entre academia e a igreja? Qual há entre heréticos e cristãos? ... Abaixo com todas as tentativas de se reproduzir um cristianismo mosqueado por um misto de formas estoica, platônica e dialética! Não queremos nenhuma estranha discussão depois de recebermos Jesus Cristo, nenhum questionamento depois de apreciarmos o Evangelho! Com nossa fé não desejamos mais nenhum credo. [1]

As palavras de Tertuliano nos mostram que, a Igreja naquela época já enfrentava pessoas que queriam trazer de tudo para dentro da Igreja, queriam ter tudo por dogma, queriam trazer um pouco de cada religião para coloca-las como nosso credo. Mas a Igreja repudiou tal ação querendo não mais ter nada de acréscimo em nosso credo. Assim, hoje não devemos jamais querer pedaços do protestantismo, umbandismo, islamismo e entre outras heresias, como credo nosso, queremos apenas o credo passado pelos Apóstolos.

Se ficarmos nessa de mudar o pensamento antigo inovando-o de acordo com o mundo, estaremos definindo que a Igreja não se sustenta em sua verdade, pois modificar a verdade não é algo que se pode fazer, visto que a verdade é imutável. Se algo mudou por total, em vez de permanecer com a mesma visão de sempre, tal credo de verdade não pode sustentar-se, eu não posso dizer, por exemplo, que leite é branco e amanhã dizer que o leite é violeta só porque outra pessoa acha que é violeta e em nome de um pseudo ecumenismo ter que aceitar tal afirmação para não desrespeita-lo. O nosso credo nunca foi modificado, e nunca jamais será, pois no credo está toda uma verdade imutável da qual nem um filosofo ou teólogo desse mundo vai ser capaz de inovar/acrescentar algo. Sejamos fieis a Igreja de Cristo, e anão as falsas teologias.

Minha posição pode até ser vista como incompreensível, irônica, e/ou agressiva, mas, eu não vou me moldar a esse falso ecumenismo que foi envenenado pela pós-modernidade.

Comentário: Gilson Azevêdo

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[1] On prescricion against Heretics. Traduzido por Sister Agnes Clare Way, vol. 46 de The Fathers of teh Church: A New Translation. Editado por: Alexandre Roberts e James Donaldson, 10 vols. New York: Charles Scribner's, 1896-1903, vol. 3, p. 246. s

Aborto é crime e psicopatismo - Diga sim a vida


Partindo do principio de que, se eu sou dono do meu corpo e devo ditar as regras do que eu faço ou não com ele, quem sou eu, ou quem é você para dizer o que fazer com o corpo de uma criança que está no ventre desde o primeiro mês de vida? A criança que está no ventre, não faz parte do corpo de uma mulher e nem tão pouco de um homem que induz uma mulher a fazer um aborto. O que está dentro do ventre, é outra vida separada da sua, portanto, não dite as regras por uma criança indefesa. Pessoas que apoiam o aborto, sofrem de psicopatismo e crise de indenidade, assim como a identidade do Brasil está em crise desde 1889.

No mundo existem várias e várias mulheres que queriam ter o dom da fertilidade, que clamam a Deus dia e noite para o ter, enquanto isso, seres psicopatas que vivem em uma situação absurda fazendo assassinato desde seres humanos ao assassinato intelectual, acham que matar crianças é a melhor saída, acham que é melhor cometer um crime do que doar essas crianças a essas mães que não podem ter.

Chegou a época em que os pais se revoltarão contra os filhos e os filhos se revoltarão contra os pais, e nesta afirmação, cabe aqui dizer que pais que abortam o filho, são revoltados e seres sem capacidade para amar, que nunca saberão o valor de uma criança para a humanidade. Nada justifica o assassinato de uma criança, mesmo que a via de tal gravidez seja de um estupro, pois, colocar-se do mesmo lado do estuprador tornando-se um monstro, também é um crime, pois crime por crime não se justifica.

Se não quer ter esse filho, espere os nove meses e doe a criança, porque matando-a, suas mãos estarão sempre sujas de sangue infantil.

Lembre-se das palavras de Nosso Senhor: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. Mateus 25,40 - Embora o versículo fale expressamente de uma situação onde Jesus narra as vezes em que alguém deixou de fazer algo a Ele, como, por exemplo, bater na porta e pedir o que comer e não darem o que comer, pedir o que vestir e não darem o que vestir, também essas palavras se relacionam com as crianças, pois todas as vezes que fizerem um aborto, é a Deus quem estão fazendo, estão abortando-o/afastando-o cada vez mais de vossas vidas, do mesmo modo que quanto mais nos afastamos da luz, mais nos aproximamos da escuridão, assim também acontece com aquele que faz maldades para com as crianças.

Por fim, abortar uma criança é um atentando quanto ao mandamento não mataras. Muitos querem respeito, mas poucos são os que fazem por onde merecer. Os filhos devem honrar os pais para que seus dias sejam prolongados aqui na terra, do mesmo modo, os pais devem honrar os filhos. A palavra de Deus nos exorta: Tendo lido a missiva, o rei de Israel rasgou as vestes e exclamou: Sou eu porventura um deus, que possa dar a morte ou a vida?.... II Reis 5,7. Não somos Deus para decidir quem vive e quem morre, é Deus quem da a vida, o sopro vem d'Ele.

Diga não ao aborto.

Por Gilson Azevedo 

terça-feira, novembro 29, 2016

MNEMÔNICA TOMISTA: O que faço para lembrar com certa facilidade das coisas que li?


UM ALUNO pergunta-me o que faço para lembrar com certa facilidade das coisas que li. Bem, como a resposta pode ser útil para outras pessoas além dele, eu a darei de público.

Com Santo Tomás, aprendi que EXISTEM A MEMÓRIA NATURAL (um dos quatro sentidos internos) E A TREINADA, sendo esta última a arte de rememorar, a qual pressupõe algumas regras.

Eis os conselhos básicos do Aquinate:

> BUSCAR SIMILITUDES IMAGÉTICAS das coisas de que se queira lembrar. Neste caso, as imagens podem e devem ser um tanto extravagantes, pois a alma se prende mais ao que é fora do vulgar;

> Tais imagens, sejam quais forem, devem ser intencionalmente dispostas em determinada ORDEM, de modo que de um ponto se passe a outro quase naturalmente;

> Deve-se ter ATENÇÃO ao que se queira lembrar, ou, em termos contemporâneos, FOCO. Em suma, quem se entrega por inteiro a uma atividade tende a lembrar dela com maior facilidade do que a pessoa desatenta ou superficial;

> É necessário MEDITAR acerca do que se queira lembrar, pois recordamos melhor das coisas sobre as quais pensamos com freqüência.

Estes quatro tópicos são hauridos de Cícero e de Aristóteles e sintetizados pelo gênio medieval com maestria.

Há mais: evitar, habitualmente, aglomerações ou lugares agitados é outro conselho de Santo Tomás pegado de empréstimo a Cícero**, para quem "solitudo conservat integras simulacrorum figuras", ou seja, o lugar solitário e silencioso ajuda a conservar as imagens de que a memória se vale para operar. Tomás apenas troca "solitudo" por "sollicitudo", ou seja, solidão por solicitude.

Não por outro motivo, se uma pessoa não é capaz de atenção e recolhimento, torna-se quase impossível para ela exercitar a memória.

Como se vê, são conselhos de uma desconcertante simplicidade...

No mais, faça o que fizer com AMOR, o qual potencializa de maneira extraordinária as energias psíquicas.

** Trata-se do livro "Rhetorica ad Herennium", cuja autoria é hoje posta em dúvida por vários estudiosos.

Professor Sidney Silveira

sábado, novembro 26, 2016

Fundamentos da Crisma


1. A Sagrada Escritura, tanto no Antigo como no Novo Testamento, promete a efusão do Espírito Santo nos tempos messiânicos.

Advertência preliminar: o Espírito ou Sopro (ruach, em hebraico) de Javé, no Antigo Testamento, significa geralmente a força de Deus a suscitar vida e obras dignas do Altíssimo através da história sagrada. Como se entende, os israelitas, não tendo conhecimento do dogma da Ssma. Trindade, ainda não concebiam o Espírito como Pessoa Divina.

Assim já nos primórdios da criação o Espírito aparece sobre o caos do mundo como que para acalentá-lo e nele fomentar a vida; cf. Gên 1,1. No decorrer dos tempos, o Espírito se comunicava aos homens chamados para realizar grandes feitos: os Juízes (cf. Jz 3,10; 6,34; 11,29), Saul (cf. 1 Sam 11,6), Moisés (cf. Núm 11,17), Davi (cf. 2 Sam 23,2), Elias (cf. 4 Rs 2,9), os profetas em geral. Por excelência, como se dirá mais abaixo, dever-se-ia derramar sobre a natureza humana do Messias, chamado a ser Rei, Sacerdote e Profeta em grau eminente (cf. Is 11,2).

Na plenitude dos tempos, a plenitude do Espírito Santo devia ser outorgada não somente a indivíduos privilegiados, mas a todos os justos. É o que prediz muito claramente o profeta Joel: num quadro dramático, Javé promete «derramar seu Espírito sobre toda carne», de modo a renovar o mundo (3,1). Ezequiel, por sua vez, anunciava a renovação interior dos fiéis mediante o Espírito de Deus como característica da era messiânica; dando o seu Espírito ou um novo princípio de vida aos homens, Javé os tornaria observantes da Lei Divina, portadores de frutos de justiça e santidade, que o Espírito faria germinar à semelhança da água que toma fecunda a terra (cf. Ez 36,26s ; 37,14 ; 39,24.29 ; Is 32,15-19; Zac 12,10).

A efusão do Espírito devia efetuar-se por intermédio do Messias. Este em sua natureza humana seria cumulado dos dons do Espírito Santo, a fim de realizar a sua obra de salvação (cf. Is 11,1-3 ; 42,1 ; 61,1).

No Novo Testamento, Cristo aparece realmente como o depositário do Espírito Santo: sobre a sua santíssima humanidade desceu o Espírito no dia do batismo (cf. Mt 3,16), penetrando-a à semelhança do óleo com que se pratica uma unção; dai o nome de Ungido (= Christós, em grego; Mashiah, em hebraico) que toca a Jesus: «O Espírito do Senhor está sobre mim, pois que me consagrou por uma unção», diz o Salvador no inicio da sua vida pública, citando Is 61,1 (cf. Lc 4,17-22).

E note-se como em torno de Jesus, justamente no limiar da era messiânica, como que para assinalar a presença do Ungido, surge um grupo de figuras ricamente agraciadas pelo Espírito Santo: Elisabete (cf. Lc 1,41-43), Zacarias (cf. Lc 1,67), João Batista (cf. Lc 1,15), Maria Santíssima (cf. Lc 1,35), Simeão (cf. Lc 2,25-32), a viúva Ana (cf. 2,36-38)...

Antes de sua volta ao Pai, Jesus, confirmando as predições do Antigo Testamento, prometeu enviar a todos os fiéis o Espírito Santo, o qual se tornaria o Advogado ou Consolador (= Paráclito) e o Mestre interior de cada um (cf. Jo 7, 37-39; 14,16s. 26 ; Lc 24,49 ; At 1,4). Pelo Espírito e no Espírito de Deus é que haviam de viver os discípulos de Cristo (cf. 1 Cor 12,3).

2. O dom do Espírito foi realmente outorgado na plenitude dos tempos por obra do Messias.


Enquanto Jesus não estava glorificado, o Espírito ainda não era dado, diz o Evangelista S. João (cf. 7,37), pois na verdade o Espírito Santo devia ser enviado aos fiéis não somente como dom do Pai Eterno, mas também como fruto da obra da Redenção (o Espírito devia como que jorrar da Ssma. humanidade de Cristo batida ou ferida contra o madeiro da cruz, à semelhança da água que no deserto emanou da rocha batida pela vara de Moisés a fim de dessedentar o povo ; cf. Núm 20,7-11; 1 Cor 10,4). Consequentemente, logo depois da Ascensão os dons do Espírito Santo começaram a se derramar sobre os fiéis.

Já no dia de Pentecostes, após a descida do Paráclito sobre os Apóstolos, São Pedro podia declarar que a predição de Joel se tinha cumprido sob a forma de primícias (cf. At 2,17-21). A realização plena do oráculo devia abranger a cada um dos cristãos em particular, como acrescentava o Apóstolo à multidão que, impressionada pelo portento de Pentecostes, lhe perguntava o que devia fazer:

“Arrependei-vos; que cada um de vós se faça batizar em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados; recebereis então o dom do Espírito Santo, pois em favor de vós, de vossos filhos e de todos os que estão longe é que foi feita a promessa” (At 2,38s).

Por conseguinte, após o dia de Pentecostes, através dos tempos, o Espírito Santo havia de ser comunicado aos fiéis... Ora a Escritura mostra como realmente no decorrer de sua obra missionária os Apóstolos, mediante preces e imposição das mãos, comunicavam o Espírito Santo a todos os que abraçavam a fé (a imposição das mãos é rito já usado no Antigo Testamento para simbolizar a aplicação ou a transferência de um dom espiritual ; cf. Num 11,16s.24; 27, 18-20).

Três são os textos mais importantes que a este propósito ocorrem:

a) At 8,4-25. Os Apóstolos em Jerusalém ouviram que na Samaria o diácono Filipe anunciara o Evangelho e batizara muitos recém-convertidos, os quais, porém, não haviam recebido o Espírito Santo (donde se poderia deduzir que o diácono não tinha a faculdade de O conferir). Enviaram então àquela região Pedro e João, os quais, orando e impondo as mãos, comunicaram o Espírito Santo aos fiéis. Aconteceu, porém, que Simão Mago, tendo presenciado o acontecimento, quis comprar do Apóstolo Pedro o poder de dar o Espírito; ora São Pedro não lhe respondeu que não se efetuava comunicação do Espírito, nem que esta era independente de algum rito, mas simplesmente que o poder solicitado não podia ser adquirido a dinheiro.

b) At 19,1-7. Em Éfeso São Paulo encontrou um grupo de doze discípulos, aos quais perguntou se já haviam recebido o Espírito Santo. Ao saber, porém, que só tinham sido batizados no batismo de João, completou-lhes a catequese e mandou-os batizar em nome de Cristo; a seguir, por imposição das mãos, comunicou-lhes o Espírito Santo.

Estes dois episódios sugerem algumas conclusões: 1) a comunicação do Espírito por meio de preces e imposição das mãos é rito diferente do batismo, podendo este ser administrado sem aquela; 2) o ministro do batismo nem sempre está habilitado a proceder à imposição das mãos; esta parece reservada aos chefes da comunidade; 3) muito pouco plausível seria admitir que a comunicação do Espírito Santo tenha sido, por instituição dos homens, associada à imposição das mãos (criatura alguma poderia fazer que tal efeito sobrenatural dependesse de uma cerimônia natural); é de supor, portanto, que Cristo mesmo haja instituído o rito comunicador do Espírito Santo, rito verdadeiramente sacramental.

c) Hebr 6,1-6. O autor sagrado propõe-se recordar aos leitores os artigos fundamentais referentes a Cristo, ou seja, as verdades que eram ensinadas aos catecúmenos logo que entravam no seu currículo cristão (cf. 5,11-14). Seis são esses artigos, que o Apóstolo agrupa em três pares:

- o abandono das obras mortas e a fé em Deus,

- a doutrina sobre os batismos e a imposição das mãos,

- a ressurreição dos mortos e o juízo eterno (6,1s).

Que será a imposição de mãos aqui mencionada ? É, sem dúvida, um rito intimamente associado ao batismo, sem, porém, se confundir com este (como a ressurreição e o juízo final, a penitência e a fé estão intimamente unidas entre si, mas não se identificam mutuamente). Tem por efeito (delicadamente insinuado em 6,4) dar participação no Espírito Santo. Trata-se, como bem se crê, de rito idêntico ao que é referido no livro dos Atos (cc. 8 e 19), de mais a mais que em Hebr 6 é enumerado dentro da mesma série que ocorre em At 2,38s: penitência, fé, batismo, imposição das mãos.

A alusão aos «batismos» (no plural) significa que todo catecúmeno conhecia o valor próprio do sacramento cristão, distinguindo-o bem do batismo de João e dos demais ritos de ablução e purificação que estavam em uso entre os judeus.

Ora note-se que em Hebr 6 a imposição das mãos subsequente ao batismo e comunicadora do Espírito faz parte do fundamento (themélion) da religião cristã. O fundamento, porém, não pode provir senão do Fundador... Donde se segue que o mencionado rito se deve à instituição de Cristo mesmo; de resto, os Apóstolos confessavam que não eram senão «os ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus» (1 Cor 4,1).

Eis, porém, que uma dificuldade se põe: não se poderia dizer que a imposição das mãos na antiga Igreja era destinada apenas a produzir dons extraordinários (glossolalia, profecia, etc.), como se lê em At 19? As subsequentes gerações cristãs não a terão indevidamente transformado em instituição ordinária? — A dúvida se elucida se consideramos, de um lado, que Cristo prometeu o Espírito a todos os fiéis, sem restrição de época; de outro lado, a imposição de mãos, enumerada em Hebr 6 juntamente com a penitência, a fé, o batismo..., aparece como instituição fundamental e, por isto, permanente do Cristianismo; ao contrário, os carismas ou dons extraordinários são graças esporádicas que, na antiga Igreja, eram dadas com frequência em vista de rápida difusão do Cristianismo; por isto, independentemente de dons milagrosos, a comunicação do Espírito por imposição das mãos é necessária na Igreja, destinando-se sempre a produzir o carisma ou o dom máximo, cujos efeitos são, muitas vezes, invisíveis, a saber; o dom da caridade (cf. 1 Cor 12,31).

3. E quando terá Cristo instituído o rito de comunicação do Espírito?


Os teólogos propõem mais de uma sentença sobre o assunto. A resposta mais provável, porém, parece depreender-se das seguintes considerações.

O episódio da descida de Cristo nas águas do Jordão (Mt 3,13-17; Mc 1, 9-11; Lc 3,21s) foi em todos os tempos considerado como uma das cenas mais importantes da vida de Jesus. Muitos Padres e escritores antigos afirmaram ter sido então instituído o sacramento do batismo (pois Cristo por seu contato santificou as águas), sentença que exegetas não-católicos hoje em dia igualmente professam.

Tenha-se em vista o texto:

“Naqueles dias Jesus de Nazaré veio da Galiléia e foi batizado por João no Jordão. E, logo que saiu da água, viu os céus abertos e o Espírito que, como pomba, descia sobre Ele, e dos céus fez-se ouvir uma voz: 'Tu és meu Filho bem-amado, em Ti me comprazo' ” (Mc 1,9-11).

Como se vê, no episódio acima o Evangelista distingue dois atos sucessivos: a ablução ou o contato de Jesus com as águas, e a descida (poder-se-ia dizer: a unção) do Espírito que se deu quando o Senhor emergiu e que sagrou aos olhos do mundo Jesus como Rei, Sacerdote e Profeta dos tempos messiânicos (cf. Lc 4,18 ; At 10,18). Ora a cena que inaugurou a vida pública de Cristo é certamente tipo do que se dá em toda iniciação cristã (o cristão é, sim, um outro Cristo); na base desta observação distinguir-se-ão também dois atos no processo da iniciação cristã: a ablução do catecúmeno e a descida do Espírito Santo, ou seja, o sacramento do batismo e o da confirmação (embora estes dois ritos tenham sido frequentemente administrados durante a mesma função litúrgica na antiguidade, o livro dos Atos dá testemunho de que também podiam ser separados por certo intervalo de tempo). — Em conclusão, pergunta-se : Cristo, na cena inaugural de sua vida messiânica deixando entrever o batismo e a unção dos fiéis por comunicação do Espírito Santo, não terá ao mesmo tempo instituído esses dois ritos sagrados? Enquanto Jesus não estava glorificado (cf. Jo 7, 37-39), o sacramento da crisma não podia ser apresentado de maneira mais concreta; era preciso que viesse a solenidade de Pentecostes para que se pudesse explicitar todo o conteúdo da cena do Jordão.

Resta, porém, ainda uma questão atinente à matéria do sacramento.

4. Se a Sagrada Escritura refere que a comunicação do Espírito se fazia por imposição das mãos, como se justifica a unção hoje praticada juntamente com aquela?

Não há dúvida, é sentença comum entre os teólogos que a matéria próxima do sacramento da confirmação consta de imposição das mãos, impressão do sinal da cruz sobre a fronte do cristão e unção com óleo sagrado.

Há autores que querem justificar tal sentença dizendo que os Apóstolos efetuavam a unção juntamente com a imposição das mãos, mas que S. Lucas, cioso de brevidade nos Atos dos Apóstolos, quis mencionar apenas um dos dois ritos. Tal explicação não deixa de parecer um tanto artificiosa. Reconheça-se o silêncio da Escritura, sem formular alguma interpretação a respeito. O fato é que do séc. III em diante os escritores (Tertuliano, em 200 aproximadamente; Hipólito Romano, em 220...) atestam a prática da unção. Pois bem, tenha estado em vigor entre os Apóstolos ou não, esta era sugerida por textos da S. Escritura mesma que apresentam o Espírito Santo como o Bálsamo, e a comunicação do Espírito como a unção com que são agraciados o Redentor e os remidos (daí os nomes de Cristo = Ungido, e cristãos...).

Assim notem-se, além do trecho de Lc 4,18 (citado à pág. 102 deste fascículo), os dizeres de S. Pedro em At 10,38: “Deus ungiu (Jesus de Nazaré)] com o Espírito Santo e poder»; o que quer dizer: o Pai derramou sobre a santíssima humanidade de Jesus a plenitude dos dons do Espírito Santo, de sorte que o Redentor, como homem, vivia continuamente sob o impulso do Espírito de Deus. A ideia, aliás, de que o Salvador seria o Ungido por excelência se deriva da noção de que Ele se tornaria eminentemente Rei, Sacerdote e Profeta e, por conseguinte, deveria receber uma unção, como os reis e sacerdotes a recebiam no Antigo Testamento (cf. 1 Sam 10,ls; Ex 29,30). No que diz respeito aos cristãos, observe-se que os Apóstolos apresentam a comunicação do Espírito como sendo «a unção que provém do Santo» (1Jo 2,20.27; cf. 2 Cor 1,21).

Foram essas concepções que sugeriram aos antigos chefes das comunidades cristãs simbolizassem a comunicação do Espírito Santo não somente mediante a imposição das mãos, mas também mediante uma unção com bálsamo sagrado; o cristão reproduz, sim, a vida do Cristo; é, espiritualmente, um «ungido». — A praxe da unção, desde que promulgada pela voz oficial da Igreja, goza de indiscutível autoridade para o católico, pois não é necessário que todos os ritos do culto estejam explicitamente delineados nas páginas da Sagrada Escritura.

Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

DE ONDE VIEMOS? ONDE ESTAMOS? PARA ONDE VAMOS?


Tema: Filosofia

Em síntese: Cada pessoa humana é uma ideia de Deus concebida desde toda a eternidade e criada no tempo oportuno a fim de desenvolver suas virtualidades e voltar plenamente realizada à Casa do Pai. Cada um de nós pode dizer com Cristo: "Saí do Pai e vim ao mundo; de novo deixo o mundo e volto para o Pai" (Jo 16, 28).

* * *

As três perguntas deste título impõem-se a todo ser humano que reflita: Qual é o sentido desta vida? Muitas respostas foram dadas a tais questões, inclusive a da reencarnação, que é um postulado sem fundamento. Procuraremos, a seguir, formular a resposta numa perspectiva cristã, que certamente dilatará o coração.

1. DE ONDE VIEMOS?

Redigiremos a nossa resposta abrindo os olhos em torno de nós. Vivemos num universo harmonioso e equilibrado entre milhões de astros que percorrem suas órbitas bem dimensionadas, de modo a maravilhar quem contempla o makrokosmos, que tem seu paralelo na beleza do mikrokosmos (olho, ouvido, coração humanos extasiam o observador).

Ora toda esta grandeza deve ter um Planejador e Criador, uma inteligência Suprema que, com seu poder, deu origem a tal realidade vertiginosamente desmedida. Contudo, esse sábio Planejador e Criador há de primar também pelo amor; deve ser santo e perfeito em tudo.

Ora um axioma filosófico antigo nos diz que "o Bem é difusivo de Si". Isto quer dizer que o Supremo Sábio, também chamado "Deus", é supremamente difusivo de Si; quis comunicar-se a fim de que seres não existentes viessem a existir e gozar da sua bem-aventurança.

É nesse fundo de idéias que se coloca a origem de cada um de nós. Com efeito, Deus em sua eternidade concebeu o modelo ou protótipo de cada qual, configurado à imagem e semelhança do Criador. Essa idéia de Deus deve tornar-se realidade neste mundo em tempo oportuno ou nos decênios de vida que passamos na terra. Ele nos criou como uma semente embrionária, cheia de virtualidades, que devemos desenvolver por nossa conta, a fim de nos adequarmos ao modelo ou protótipo que o Pai tem para cada qual de nós. No centro do plano do Pai está a figura do Cristo Jesus, Irmão mais velho, ao qual basicamente nos devemos configurar (cf. Rm8, 29). Diz o Apóstolo que tudo foi criado nele e para Ele (cf. Cl 1, 15s).

2. ONDE ESTAMOS?

Deus criou para o homem o palácio deste mundo, palácio que só elevadas pesquisas da inteligência humana podem tentar explicar, tão inteligentemente foi ele estruturado.

A idéia de Deus (que era cada um de nós antes de ser criado) foi feita realidade palpável quando Deus o houve por bem (digamos: nos séculos XX e XXI). É de notar, porém, que a criancinha que nasce neste mundo é muito embrionária; está cheia de potencialidades que devem ser desenvolvidas para que essa criatura atinja "o estado do Homem Perfeito", a medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4, 13). A tarefa de se desabrochar é entregue aos cuidados de cada um(a); cada qual se esculpe, se burila e se configura segundo o ideal que concebe; alguns o fazem muito sabiamente, aplicando seus talentos à prática do bem; outros são menos felizes, pois desperdiçam os seus talentos na leviandade e frivolidade de vida. Cada qual fica sendo assim responsável pela sua estrutura definitiva,... estrutura com a qual ele(a) se apresentará ao Pai quando este chamar de volta a sua criatura. Cada segundo de nossa vida tem sua repercussão na eternidade; é como uma semente que lançamos à terra e que dará frutos bons ou não de acordo com a qualidade do tratamento recebido.

Estas afirmações valem não somente para os cristãos, mas também para todos os homens e mulheres de boa vontade; não conhecem Jesus Cristo, mas têm o coração aberto à Verdade e ao Bem, praticam sua religião ou vivem sem religião, julgando sem hesitação que estão no caminho certo. Se Deus não lhes revelou o Evangelho e eles o ignoram sem culpa própria, não serão julgados segundo os padrões do Evangelho, mas segundo a fidelidade à sua consciência sincera e aberta à Verdade e ao Bem. Poderão salvar-se mediante Cristo e sua Igreja na qualidade de membros invisíveis da Igreja.

Destas considerações se depreende o valor da vida presente; ela é breve e cheia de percalços, de modo que o(a) sábio(a) não perde tempo e vigia assiduamente. Para o fiel cristão, recomendam-se como recursos indispensáveis a Eucaristia e a oração.

O encontro com Deus não é algo de meramente futuro, mas já ocorre sob os véus da fé na vida presente. O Criador não abandona sua criatura neste mundo, mas acompanha-a, dando-lhe os subsídios necessários para o bom êxito de seus esforços e permitindo-lhe gozar os benefícios da experiência de Deus, que habita nos corações justos. O Deus conhecido veladamente na terra é o mesmo que se dá reveladamente na eternidade. Poucos pensam nisto e poucos têm a coragem da coerência.

O mundo colorido e sonoro que nos cerca é tão sedutor que às vezes pode empalidecer a visão do além; o indivíduo mergulha nos afazeres materiais, que são muito exigentes e pode não fazer caso do Principal, que é a vida eterna. Não seja assim o cristão; trabalhe com zelo em tudo que empreender, mas sempre com o olhar voltado para o Eterno; haja no cristão sempre um fio condutor intocável que leve ao encontro de Deus através das múltiplas tarefas temporais.

3. PARA ONDE VAMOS?


Vamos para a Casa do Pai, que nos concebeu, criou e acompanhou neste mundo a fim de chegarmos à vida eterna([1]). Somos peregrinos, aos quais diz S. Agostinho:

"O peregrino quer subir. Mas para onde irá ele? Para o sol, a lua, as estrelas? O céu é a Jerusalém eterna, onde moram os anjos, com os quais viveremos. Na terra peregrinamos longe deles; durante a peregrinação, suspiramos; ao chegar à pátria sentiremos grande alegria" (Comentário aos Salmos).

Veremos então Deus ou a Beleza Infinita face-a-face e todas as nossas aspirações serão saciadas. Diz ainda S.Agostinho: "Serás insaciavelmente saciado". Veremos nossos familiares e amigos em Deus ou contemplando Deus.

Consciente destas verdades, escreve São Paulo:

"Sabei que quem semeia com parcimônia, também colherá com parcimônia, e quem semeia com largueza, também com largueza colherá" (2Cor9, 6).

A colheita será proporcional à semeadura. Em poucas palavras podemos afirmar com o mesmo Apóstolo:

"O que o olho não viu, o que o ouvido não ouviu nem o coração humano jamais percebeu. Eis o que Deus preparou para aqueles que O amam" (1Cor2, 9).

O amor abrirá o olho da mente; quanto mais ardente for ele, tanto mais propiciará uma visão nítida de Deus, ao passo que o amor lânguido será menos clarividente. Deus é amor, e quanto mais o amamos, tanto mais afinidade temos com Ele.

Feitas estas observações, só resta ao cristão compenetrar-se do valor da vida presente, que é a ante-câmara da eternidade. O tempo é precioso, como lembra S. Agostinho:

"Tanto Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei. Vós estáveis dentro de mim, mas eu estava fora, e aí Vos procurava; com o meu espírito deformado, lançava-me sobre as coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco.

Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Chamastes, clamastes e rompestes minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e curastes a minha cegueira. Exalastes sobre mim o vosso perfume; aspirei-o profundamente e agora suspiro por Vós. Saboreei-Vos e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e comecei a desejar ardentemente a vossa face" (Confissões).

Vemos assim que um fiel cristão não pode dizer que não sabe o que há no além. Diga antes que possuirá a plenitude dos bens dos quais um certo antegozo é concedido aos que sinceramente buscam a Deus. O próprio Deus se dará às criaturas em vez de lhes dar subsídios para a caminhada de peregrinos.

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[1] Entende-se, porém, que aqueles que morrem com o amor voltado para Deus, mas ainda contraditado por escórias do "pecadinho" de cada dia terão de fazer um estágio de purificação. Este nada tem a ver com fogo, mas será a ocasião de repudiar por completo as raízes de todo e qualquer pecado.

Conhecemos realmente a verdade?


Filosofia

Em síntese: O ceticismo alega que não conhecemos a verdade. Cai, porém, em contradição, pois afirma ser verdade que não conhecemos a verdade. A rigor, o cético não pode afirmar nem mesmo o seu ceticismo. - O intelecto humano só tem razão de ser se é capaz de apreender a verdade; corrigindo seus erros, chega progressivamente ao conhecimento da verdade.

PROFESSOR X ALUNO ATENTO

Em uma das inúmeras salas de aula do CEUB, entrou, apressadamente e com ar de quem traz uma grande novidade, o professor (chamemo-lo de) Silvério.

Sentou-se em sua prestigiosa cadeira (não muito diferente das nossas) e começou sua aula. No meio das leis e normas, dos princípios e lacunas (que permeiam a carreira jurídica), lançou a criativa e inovadora frase que durante muito tempo ele esperava a ocasião propícia de expor: "A verdade não existe, ela é relativa".

Seus olhos refletiam aquela sabedoria própria aos grandes mestres. Nem Aristóteles, no auge de seus conhecimentos filosóficos, teria pronunciado sentença mais justa e erudita! Era verdadeiramente um homem que se fazia respeitar por sua capacidade intelectual...

Entretanto, um de seus alunos se levanta e toma a palavra:

- Permita-me discordar, professor! Seu pensamento é contraditório!

O professor, surpreso de que alguém duvidasse de seus talentos filosóficos, retrucou:

- Errado? Ora, você não percebe que tudo é relativo? O que é verdadeiro para mim não precisa de ser verdadeiro para você. Cada um tem a sua verdade! Por exemplo: houve épocas em que se pensava que o Sol girava em torno da Terra. Para aqueles homens, a verdade era essa! Se a verdade não mudasse, até hoje nós estaríamos com o mesmo pensamento. O que prova que não existe uma verdade absoluta, imutável, fixa e estagnada. Ela varia de acordo com a História e a Geografia!

Enquanto falava, seus modos demonstravam o gosto da discussão que imaginava vencida. Afinal, os argumentos pareciam bem difíceis de ser respondidos.

- Mas, professor, o Sol girava em torno da Terra naquela época? O fato de alguém pensar diferente da realidade não altera a realidade! A verdade não mudou, apenas foi descoberta posteriormente. E, depois, sua frase é contraditória em si mesma!

O aluno, então, foi até o quadro e escreveu: "A Verdade é Relativa" e perguntou com tranqüilidade:

- Professor, essa frase: "A Verdade é Relativa" é verdadeira ou falsa?

O professor não teve saída. Se respondesse que era verdadeira, reconheceria ele que a verdade existe. Se respondesse que era falsa, reconheceria que é falso seu argumento e que, portanto, a verdade existe.

Não se deixando dobrar, retomou a sua aula e continuou falando das lacunas do Direito. Ao que parece, esse tema, ele não o achava relativo...

COMENTANDO  O ASSUNTO

1. O Ceticismo

O ceticismo é contraditório e praticamente impossível. Com efeito, ao afirmar que nada podemos conhecer, o cético conhece e afirma a sua posição; ele sabe com certeza que ela é verídica. Ao dizer que nada conhecemos, ele admite o princípio de contradição (distingue entre conhecer e não conhecer, entre certo e incerto) e cai em contradição consigo mesmo ([1]).

Toca ao cético provar a sua tese: nada podemos conhecer; se ele a afirma gratuitamente, podemos também negá-la gratuitamente. Mas, para provar a tese, o cético deve partir de princípios seguros - o que não lhe é possível, pois implicaria contradição.

Praticamente falando, o cético não deveria falar, pois falar supõe sempre a distinção nítida e certa entre o Sim e o Não. Aristóteles diz acertadamente que o ceticismo reduz o homem à categoria de vegetal (hómolos phytool).

É de notar ainda que com um cético não se pode discutir, nem mesmo para evidenciar-lhe o seu erro, pois todo debate parte de algum princípio aceito pelos dois contendentes. O que se pode fazer, é mostrar ao "cético" que de fato ele não é cético e que se engana, ao dizer que de nada tem certeza.

Na verdade, parece que o número de céticos (no sentido pleno da palavra) é assaz reduzido em nossos dias. A existência e o êxito da ciência e da tecnologia contemporânea parecem constituir a mais eloqüente refutação do ceticismo.

2. O Intelecto Humano

Podemos afirmar que a inteligência é capaz de conhecer a verdade. Isto não se pode propriamente demonstrar, porque seria petição de princípio. Com efeito; demonstrar é partir de conhecimentos tidos como certos para chegar a novo conhecimento ainda ignorado; ora o possuir conhecimentos certos supõe que a inteligência seja apta a isso; por conseguinte, uma demonstração da aptidão da inteligência já suporia esta aptidão - o que é petição de princípio.

Mas nem é necessário demonstrar a aptidão da nossa inteligência, porque ela é imediatamente conhecida com certeza legítima, embora só implicitamente, como condição necessária para qualquer conhecimento.

Portanto, basta tornar explícito o conhecimento de tal aptidão, já contido em qualquer certeza legítima.

Dom Estêvão Bettencourt (OSB)

[1] Santo Agostinho acrescenta: negar a veracidade do intelecto é, ao mesmo tempo, afirmar a existência do sujeito que nega: "Que aconteceria, se eu me enganasse? Se eu me engano, existo. Pois quem não existe, é claro que nem se pode enganar; donde, se me engano, por isto mesmo existo. Porque existo se me engano, como é possível enganar-me acerca da minha existência, uma vez que é certo que existo, mesmo se me engano? Logo, uma vez que eu existiria mesmo se me enganasse, sem dúvida nenhuma, no afirmar a minha existência, não me engano" (Da Cidade de Deus XI26).

sexta-feira, novembro 25, 2016

Podemos ou não batizar nossas crianças? A bíblia, o que diz? E a Tradição, proibiu algo?




É comum nós católicos sermos questionados acerca do Batismo de Crianças, questões do tipo: onde diz diz na bíblia, que podemos batizar crianças? A pergunta em si já é mentirosa. Não podemos achar que toda resposta tem que está contida na bíblia, e mesmo que isso fosse uma verdade, que tudo tem que estar na bíblia, não haveriam motivos para existir o Espirito Santo. Ora, todo aquele que afirma conter tudo nas escrituras, está negando que o Espirito Santo seja necessário para à compreensão do reino de Deus. O próprio São João, discípulo amado, diz: "Há ainda muitas coisas feitas por Jesus, as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo 21,25). Quanto ao fato de hereges acharem que tudo está bíblia, devemos saber que toda posição neste sentido é insustentável. Pregar na noção de que tudo está na Bíblia, e que cada um de nós pode interpreta-la pessoalmente, seria o mesmo que dizer que homens e mulheres poderiam alegar que as leis civis não necessitam de um Congresso que as legisle, ou de uma corte que as interprete e de polícia alguma que as execute. Tudo que seria necessário seria o livro de Direito Civil em todas as casas para que cada cidadão possa determinar por si mesmo como entender e aplicar as leis. Tal afirmação, claro, é absurda, pois ninguém esperaria que as leis civis funcionassem bem deste modo. A conseqüência de tal escândalo inadvertidamente levaria à anarquia total. Sobre esse assunto, leiam: Curso completo contra "Sola Scriptura" Por fim, afirmar que o batismo de crianças não é permitido porque nas Sagradas Escrituras diz que Jesus batizou-se apenas quando estava em sua vida publica, é uma afirmação insustentável, tal qual pode-se dizer, essa afirmação é uma filosofia natural pra lá de diabólica, da qual distancia-se de Deus colocando-se para uma visão do mundo.

Por que tal afirmação é insustentável?

Vejamos bem: Quando um herege, e especificamente a heresia protestante-batista, diz/afirma, que deve-se seguir tudo e somente o que está contido na Bíblia, eles acabam esquecendo que nem eles mesmo obedecem totalmente esta regra fanática e sem fundamento. Ora, sabemos que existem regras contidas no Antigo Testamento, que vieram a ser modificadas pela Igreja Católica, Igreja essa (Unica e fundada por Cristo) da qual eles tanto rejeitam. Tais regras que eles não seguem são incontatáveis, como, por exemplo, não acender fogo (para cozinhar) em nenhuma moradia no sábado (Ex. 35,3); Não semear diferentes espécies no mesmo campo (Lev. 19,19); Não semear e colher nada, nos campos e na vinha, no ano sabático (Ex. 23, 10-11) e (Lev. 25 3-5); Não comer os frutos das árvores nos primeiros três anos (Lev 19, 23-25). Isso nem um deles seguem. Nestes pequenos exemplos, dá pra ver o tamanho da falta de estudo bíblico e a escarces remetente a Tradição, que evolvem as regras do protestantismo.

Voltando para o contexto do estudo, no que se refere ao batismo de crianças ser proibido, podemos aqui mostrar que com a própria regrinha básica que eles tanto afirmam ser real, desarticula-se por si mesma tal tese, e para isso vamos combater esse erro com a mesma pergunta/Regra) feita inúmeras vezes por hereges com síndrome do papagaio.

PERGUNTA DOS HEREGES: Onde permite o batismo de crianças na bíblia?

NOSSA RESPOSTA CATÓLICA:


Para responder, vamos usar o método de Sócrates, dialética. Em seu método, ao iniciar uma conversa, Sócrates sempre adotava a posição de uma pessoa ignorante, que apenas "sabe que nada sabe". E justamente por usar esta afirmativa, ele forçava as pessoas a usarem a razão, isto é, ele respondia com outra pergunta. Ele entrava de tal forma na conversa, e de tal forma a dominava, que era capaz de aparentar uma maior ignorância ou de mostrar-se mais tolo do que realmente era. Seus discípulos mais fieis já sabiam que quando o opositor caía nesta jogada, logo logo levaria um tombo tremendo quando o quadro se invertesse, e é usando esse método, que eu quero sanar a duvida sobre o batismo perguntando: Onde diz na bíblia que só adultos podem se batizar? Vejam que tal método é de dar nó na língua do acusador, visto que é uma pergunta que nem precisa ser respondida, pois já sabemos que nunca na história dos primeiros cristãos e nem mesmo nas Sagradas Escrituras, se determinou que somente adultos podem batizar-se.

Para sanar mais ainda a duvida de alguns católicos que as vezes se deixam levar pelas heresias protestantes, quero acrescentar de onde veio essa tese sem lógica. A primeira regra fanática sobre o batismo, isto é, a proibição do batismo de criança, surgiu com a SEITA BATISTA, que é uma ramificação do protestantismo, que começou por volta de 1612, e é deles quem surge a condenação do batismo, pois BATISTA, quer dizer ré-batismo ou emergir-se.... Eles por pura soberba, queriam privar as crianças do batismo, afirmavam que crianças não poderiam crer. Tendo em vista esse fato, devemos nos lembrar de que antes desta HERESIA começar a pregar este erro grotesco, existiram séculos de tradição na qual já se batizavam crianças, inclusive tradições Luteranas (protestantismo original), que até hoje ainda fazem batismo infantil, basta dar uma pesquisado no tópico. Se até João Batista esperneou dentro da barriga ao ver a Virgem Maria, que dirá, uma outra criança.

Exemplos da tradição: 


No século II, aparecem os primeiros testemunhos diretos do Batismo de crianças, nenhum deles o apresenta como inovação.

Santo Ireneu de Lião (+ 202) considera óbvia, entre os batizados, a presença de "crianças e pequeninos" ao lado dos jovens e adultos (Contra as Heresias II-24,4).

São Cipriano de Cartago (+ 258) dispôs que se podiam batizar as crianças "já a partir do segundo ou terceiro dia após o nascimento" (Epístola 64). Esta prática foi reafirmada nos concílios de Cartago (418) e de Trento (1547).

No século II, São Policarpo, bispo de Esmirna, na ocasião do seu martírio, diz que serve o Cristo há 86 anos, isto é, desde criança.

São Justino, mártir de Cristo, na sua Apologia, fala das pessoas que são cristãs desde a infância.

Ainda Santo Irineu, Bispo de Lião e discípulo de Policarpo, diz: “Com efeito, Jesus veio salvar por si mesmo a todos os homens; a todos – eu digo – que por ele renasceram em Deus: crianças de peito, crianças maiores, jovens e pessoas adultas”.

No século III, São Cipriano, Bispo de Cartago e mártir de Cristo, critica quem, a pretexto de imitar a circuncisão judia, deixa para o oitavo dia de nascido o Batismo. Ele quer que os pais batizem os filhos assim que nascem.

A Tradição Apostólica, documento importantíssimo para os cristãos, falando sobre o rito do Batismo diz: “Se (os que vão ser batizados) puderem responder por si mesmos, que respondam; se não puderem, que seus pais ou alguém da família, responda por eles”.

Orígenes não somente atesta o Batismo de crianças, como também explica que ele é de instituição apostólica. E ele explica o motivo: a mancha do pecado existe em todos, também na criança.

Inúmeros são os testemunhos que afirmam o batismo de crianças, e mesmo com todas essas afirmações, Satanás continua no mundo a perder as almas e incentivando-as a pregar contra a Igreja de Cristo.

Partindo das sagradas escrituras

Sabemos que na própria bíblia encontramos testemunhos onde mencionam pagãos que professaram a fé cristã e se fizeram batizar "com toda a sua casa". Assim o centurião romano Cornélio (At 10, 1s.24.44.47s), a negociante Lídia de Filipos (At 16, 14s), o carcereiro de Filipos (At 16, 31-33), Crispo de Corinto (At 18, 8), a família de Estéfanas (1Cor 1, 16).

E quanto a expressão "casa", ou melhor, "domus", em latim; "oikos", do grego... Tinha sentido amplo e enfático na Antigüidade: designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças (que geralmente não faltavam), a menos que alguém diga que antigamente não tinham crianças nas famílias, é mais do que obvio que tinham crianças nestas casas.


Conclusão: 

Por fim, devemos ter em mente que a ordem de Jesus foi: “Ide fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19), e não ide pelo mundo inteiro e batizai somente os adultos. 

Essa expressão, “todas as nações”, é de absoluta abrangência e universalidade. Jesus, deu a ordem de batizar a todos e não exclui ninguém, então como é que nós, homens pecadores, queremos ter direito de excluir as crianças do batismo? Isso é desamor para com os pequeninos de Deus.

Partindo do princípio de que Jesus disse: “Esses pequeninos que crêem em mim” (Mt 18,6), e: “Deixai vir os pequeninos, (Mt 19,14), (Mt 21,16), temos que concluir que a fé não é privilégio de pessoas adultas. Se cremos que a fé é obra de Deus (Ef 2,8), e que o Espirito Santos manifestou-se em João Batista ainda na barriga de sua mãe, não temos o direito de limitar o poder de Deus, dizendo que certas pessoas, neste caso, crianças, não podem crer. Aliás, dizer: “crianças não podem crer” é partir de uma premissa errada. Adultos também não podem crer! Alguém só pode crer por obra do Espírito Santo! E o poder do Espírito Santo não pode ser limitado. E querer limita-lo, é encher-se da soberba de Satanás em querer colocar-se no lugar de Deus. 

Espero ter ajudado a sanar as duvidas que muitos tem acerca do assunto.

Disse Santo Tomas de Aquino: Pois é muito mais grave corromper a fé, da qual vem a vida da alma, que falsificar dinheiro, pelo qual a vida temporal é sustentada.

Este pequeno estudo é apenas para que saibamos com fé e amor defender aquilo que nós professamos.

Fica a dica. Não use o estudo se colocando no lugar deles, agindo com ódio e perversidade, use o estudo de forma amorosa e compreensiva para não cair no erro do proselitismo, os proselitistas são conhecidos por utilizar de técnicas de persuasão antiéticas e muitas vezes agressivas.

Paz e bem!
SALVE ROMA! 

Por: Gilson Azevedo - Criador do Blog

quarta-feira, novembro 23, 2016

HISTÓRIA DO USO DAS VELAS: Por que Acender Velas?


Este estudo tem como base levar conhecimento acerca de alguns dos aspectos da nossa fé católica. É comum sermos atacados por diversas religiões a despeito sobre o assunto do uso das velas, sendo que metade dos ataques são vindos de seitas protestantes. Neste estudo, estarei tratando de cada parte a respeito desta belíssima pratica da nossa fé, e espero que cada um possa fazer um bom proveito deste estudo que contém informações valiosas.  

A objeção vinda de protestantes diz: Em 320 foi introduzido o uso de velas, que é um hábito pagão. 

De forma que venhamos a entender o caso, irei responde fazendo referencias com bases bíblicas e tradicionais que desmentem tal acusação caluniosa. Logo de início, devemos saber que esse belíssimo culto de acender velas, vem desde o AT, mas, nós começamos a usar a vela a partir do século III, sobretudo para iluminar o ambiente na hora da oração ao cair da noite. Assim, a vela acesa começa significando ao cristão a elevação da alma, a sintonia com Deus e a inspiração da oração.  

As primeiras referências às velas datam do séc. X a.C. e vêm referidas em textos Bíblicos. Essas velas eram nada mais que juncos besuntados com sebo. Descobertas arqueológicas encontraram no Egipto e na Grécia velas com formato de bastão. Para os gregos as velas simbolizavam o luar e constatou-se que na Grécia as velas eram usadas ao 6º dia de cada mês como adoração a Artemisa, a deusa grega da caça. Daí alguns protestantes sem entendimento, acham que por conta disso, nós católicos prestamos cultos pagãos por termos velas em nossa liturgia, mas como já foi descrito, temos bases bíblicas para mostrar que tal culto não era só pagão, por exemplo, se caminharmos pela história dos antigos, iremos ver que lá diz: "Farás um candelabro de ouro puro... Far-lhe-ás também sete lâmpadasAs lâmpadas serão elevadas de tal modo que alumiem defronte dele" (Ex 25,31.37). Outros: 1Rs 7,49; 2Cr 4,7.20; Jr 52,19.  

Indo mais adiante no Novo Testamento, Mt 5,15: O Senhor se refere à luz que brilha sobre um candeeiro. E sabemos que o candeeiro é o mesmo que as velas. Em Ap 1,13; 2,1: Cristo aparece entre candelabros. 

Voltando ao Antigo Testamento: "O Senhor disse a Moisés: "Ordena aos israelitas que te tragam óleo puro de olivas esmagadas para manter, continuamente acesas as lâmpadas do candelabro. Disporás as lâmpadas no candelabro de ouro puro para que queimem continuamente diante do Senhor". Lev 24, 1-4. 

O termo vela

O uso das velas vem desde os antigos, porém, devemos saber que existem palavras que não existem desde sempre e algumas que mudaram seus sentidos, por exemplo, a letra J, não existiu desde sempre, por isso, nos originas nunca iremos achar o nome de Jesus com J. Com base nisso, se buscarmos a origem da palavra vela, vamos perceber que desde o significado do seu nome ao significado de seu simbolismo, tem suma importância para a nossa fé. 

O próprio termo - vela - em sua etimologia, nos leva a dizer que tal palavra induz à um meio de transporte, que na época dos piratas, era movido a velas, do Latim velum, “véu, tecido, pele”. O tecido, véu, sempre é usado para cobrir lugares sagrados, por tanto, a vela é este véu que cercado de luz, cobre nossas casas, famílias irmãos e imãs com Luz Divina. Basta acender uma luz para que as trevas se escondam. Afinal, quem se concentra orando e meio ao escuro?  

A vela quer ser para nós, também um meio de transporte, tanto é que Jesus nos chama a ser luz para o mundo, para sermos essa vela que nunca se apaga, fazendo assim, com que outras as pessoas possam ver em nós a luz que vem de Cristo, uma luz que transmite não só a Idea de salvação, mas a esperança de um dia estarmos todos juntos na vida eterna. Sendo nós, luz para os outros, estaremos a pregar sem palavras, porque ser luz para os outros, é praticar boas obras e deixar que a nossa vela brilhe de tal forma que o mundo inunde de amor, e as trevas sejam expulsas da vida de todos. Devemos ser essa vela, que transbordando de luz e amor, serve para que o próximo esteja convertido ao amor de Deus, e para que assim, possa também ser luz no caminho dos outros. Em tempos de escuridão, é necessária uma vela para olharmos bem o que tem adiante. Não deixemos que as velas do mundo se apaguem. (Gilson Azeved0 - sobre ser luz e vela no mundo atual)

Para os judeus a vela significa, ainda, a nossa missão. Porque, como a chama pode acender outras velas, sem perder a sua própria força, assim também os ensinamentos da verdade devem acender a luz da ética e da moral no mundo inteiro. Assim, a vela acesa significa, também, o nosso dever de espalhar o que vivemos e o que aprendemos na experiência e relação com Deus. Por isso, a vela acesa lembra para o judeu o sentido de sua vida, de sua missão e de suas obrigações nesta terra. (Mons. Arnaldo Beltrani - Vicariato da Comunicação)   

Jesus disse: "Eu Sou a LUZ do mundo, aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a Luz da Vida" Jo 8,12.   

Diversas são as referências que desmentem teses fanáticas que denigrem a nossa fé, vemos testemunhos do uso das velas no túmulo dos mártires, nas catacumbas de Roma, depois nas basílicas, em seguida sobre os altares e aos pés das imagens dos santos, e bem mais tarde diante do Santíssimo Sacramento para significar a presença real de Cristo na Eucaristia. A Igreja de Jerusalém criou o uso do Círio Pascal, simbolizando Cristo Ressuscitado e dando muito significado a toda a liturgia pascal das sete semanas antes de Pentecostes.

A vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo iluminou o neófito. Em Cristo, os baptizados são «a luz do mundo» (Mt 5, 14) (38). (Catecismo da Igreja Católica 1243.)

Para curiosos: Pela Idade Média as velas iluminavam igrejas, mosteiros e salões. O material mais comum nessa época para confeccionar as velas era o sebo dos animais. Isto tinha a desvantagem de criar muito fumo e de ter um cheiro bastante desagradável. A opção que tinham era a de velas feitas com a cera das abelhas só que nesse caso o problema era a quantidade de cera não ser suficiente para responder à procura. As velas além de ser de suma importância para a nossa fé, foram um dia usadas para medir tempo, devido à sua combustão cadenciada, sabendo-se que a dinastia chinesa Song usava “relógios” de velas. Com a corrida ao petróleo em 1830, surgiu o derivado mais conhecido da composição das velas actuais, a parafina. Em 1854 foi combinada com a estearina e estavam assim conjugados os elementos base para a produção das velas como as que ainda usamos hoje em dia. 

Como podemos ver, os protestantes nunca sabem o que dizem. 

Por - Gilson Azevedo - Administrador do Blog. 


Algumas Referencias: Mons. Arnaldo Beltrani - Vicariato da Comunicação



terça-feira, novembro 22, 2016

A Igreja foi durante séculos favorável ao Aborto?



Em síntese:

A Igreja sempre foi contrária ao aborto, ou seja, ao morticínio de uma criança contida no seio materno. Já no século I se encontra um testemunho deste repúdio na Didaqué. Os Concílios regionais, desde o de Elvira (início do século IV), foram impondo penas severas aos réus de aborto. O Direito Canônico hoje vigente, fazendo eco às diretrizes do passado, prevê a excomunhão latae sententiae para quem provoque o aborto (seguindo-se o efeito).

Todavia até época recente os cientistas hesitaram sobre o momento em que tem início a vida humana: seria imediatamente após a concepção ou após a fecundação do óvulo? Ou haveria, conforme pensava Aristóteles, um intervalo (de 40 ou 80 dias) entre a concepção e a animação do feto? A hesitação da ciência, bem compreensível, dada a falta de meios de pesquisa, fez que vários teólogos católicos julgassem com menos severidade a eliminação do feto antes do 40.º dia (no caso dos indivíduos masculinos) ou antes do 80.º dia (no caso dos indivíduos femininos). Note-se bem: sempre foi condenada a ocisão de uma criança; a hesitação versava apenas sobre a questão de saber se já existe verdadeiro ser humano desde o momento da concepção.

Nos recentes debates públicos sobre o aborto tem sido considerada a posição da Igreja em termos que deixam interrogações na mente da sociedade brasileira. Entre outras coisas, diz-se que a Igreja não tem autoridade para impugnar o aborto, pois que ela o permitiu desde o século IV até o século XIX. A afirmação é realmente surpreendente e exige esclarecimentos e retificações. Encararemos, a seguir, o assunto, tratando primeiramente dos pronunciamentos oficiais da Igreja sobre o aborto através dos séculos; após o quê voltar-nos-emos para a questão do início da vida humana, que deixou dúvidas em escritores de todos os séculos até época recente.

1. Os Pronunciamentos da Igreja

Desde o século I manifesta-se na Igreja a consciência de que o aborto é pecaminoso. Assim, por exemplo, reza a Didaqué, o primeiro Catecismo cristão, datado de 90-100:

"Não matarás, não cometerás adultério... Não matarás criança por aborto nem criança já nascida" (2,2).

"O caminho da morte é... dos assassinos de crianças" (5,2). Na segunda metade do século III; o autor da Epístola a Diogneto observava: "Os cristãos casam-se como todos os homens; como todos, procriam, mas não rejeitam os filhos" (V,6). O autor da Epístola atribuída a S. Barnabé no século II e depois Tertuliano († 220 aproximadamente), S. Gregório de Nissa († após 394), São Basílio Magno († 379) fizeram eco aos escritores precedentes.

A legislação da Igreja oficializou esse modo de pensar, estipulando sanções para o crime do aborto. Assim o Concílio de Ancira (hoje Ancara) na Ásia Menor em 314, cânon 20, menciona uma norma que os conciliares diziam ser antiga e segundo a qual as mulheres culpadas de aborto ficam excluídas das assembléias da Igreja até a morte; o Concílio atenuou o rigor dessa penalidade, reduzindo-a para dez anos: "As mulheres que fornicam e depois matam os seus filhos ou que procedem de tal modo que eliminem o fruto de seu útero, segundo uma lei antiga são afastadas da Igreja até o fim da sua vida. 

Todavia num trato mais humano determinamos que lhes sejam impostos dez anos de penitência segundo as etapas habituais" (Hardouin, Acta Conciliorum; Paris 1715, t. I, col. 279)1

Outros Concílios repetiram a condenação do aborto: o de Elvira (Espanha) em 313 aproximadamente, cânon 63; o de Lerida, em 524, cânon 2; o de Trullos ou Constantinopla, em 629, cânon 91; o de Worms em 869 cânon 35... Em 29/10/1588, o Papa Sixto V publicou a Bula Effraenatam: referindo-se aos Concílios antigos, especialmente aos de Lerida e Constantinopla, condenou peremptoriamente qualquer tipo de aborto e impôs severas penas a quem o cometesse, penas que só poderiam ser absolvidas pela Santa Sé. Além disto, a Bula não distingue entre feto não animado e feto animado por alma intelectiva, distinção esta de que falaremos às p. 454-456 deste artigo e que na época parecia muito importante.

Tal Bula era rigorosa demais para poder ser observada, principalmente pelo fato de reservar à Santa Sé a absolvição das penas infligidas aos réus de aborto. Por isto foi substituída poucos anos depois pela Bula Sedes Apostolica de Gregório XIV, datada de 31/05/1591; este documento distingue entre feto animado e feto não animado por alma humana: o aborto de feto animado ou verdadeiramente humano seria punido com a excomunhão para os culpados, mas sem reserva da absolvição à Santa Sé; quanto ao aborto de feto não animado ou não humano, ficaria a questão como estava antes da Bula de Sixto V (seria passivo de sanção menos severa do que o aborto de feto animado).

Como se vê, a questão da animação mediata ou imediata era ardente na época. Diante das posições extremadas que alguns autores professavam, o Papa Inocêncio XI condenou em 02/03/1679, como escandalosas e na prática perniciosas, as seguintes sentenças:
"34. É lícito efetuar o aborto antes da animação para impedir que uma jovem grávida seja morta ou desonrada.

35. Parece provável que todo feto carece de alma racional enquanto está no seio materno; só é dotado de tal alma quando é dado à luz. Em conseqüência, deve-se dizer que nenhum aborto implica homicídio" (Denzinger-Schönmetzer, Enquirídio de Símbolos e Definições n. 2134s.).

Como se vê, o Papa não quis abonar a tese do aborto sob pretexto de que não afeta um ser humano propriamente dito. Embora não se soubesse com certeza no século XVII quando começa a vida humana, Inocêncio XI não se prevaleceu desta incerteza para legitimar a eliminação do feto contido no seio materno.
No século XIX o Papa Pio IX renovou a condenação do aborto, sem distinguir animação mediata ou imediata: "Declaramos estar sujeitos a excomunhão latae sententiae (anexa diretamente ao crime) reservada aos Bispos ou Ordinários, os que praticam aborto com a eliminação do concepto" (Bula Apostolicae Sedis de 12/10/1869). Esta sentença categórica persistiu na Igreja até o Código de Direito Canônico atual, que prevê a excomunhão para o delito:

"Cânon 1398. Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae". Vê-se, pois, que a Igreja desde os seus primórdios se manifestou contrária ao morticínio de uma criança contida no seio materno. Existia, porém, para os teólogos a grave questão de saber quando começa a vida humana; a falta de conhecimentos genéticos adequados levava alguns a crer que, em determinadas circunstâncias, não havia verdadeira vida humana no seio materno. É o que passamos a examinar mais detidamente.

2. Animação mediata ou imediata?

Os seres vivos são compostos de um corpo organizado e um princípio vital (chamado anima, em latim). Animação, portanto, é o ato de se unirem o princípio vital (anima) e o corpo organizado. No homem, animação ocorre quando a alma (anima) é criada por Deus e infundida nos elementos materiais orgânicos, aptos a exercerem as funções da vida humana (que é vegetativa, sensitiva e intelectiva). Pergunta-se, pois, quando se dá a animação: logo por ocasião da fecundação do óvulo pelo espermatozóide? Tem-se então a animação imediata... Ou a certo intervalo após a fecundação? Tem-se assim a animação mediata. Vejamos como os pensadores responderam à questão.

Na antigüidade pré-cristã somente o filósofo grego Aristóteles († 322 a.C.) tratou do assunto. O seu raciocínio não é claro, mas parece defender a animação mediata: o embrião humano teria primeiramente um princípio vital meramente vegetativo; depois seria animado por um princípio vital vegetativo e sensitivo, e só posteriormente por um princípio (anima) vegetativo, sensitivo e intelectivo ou por uma alma humana propriamente dita.

Passemos agora aos pensadores cristãos, distinguindo gregos e latinos.

2.1. Os escritores gregos -

A maioria destes era partidária da animação imediata. Foi principalmente S. Gregório de Nissa († após 394) quem marcou a tradição grega. Rejeitava a teoria da preexistência seja da alma, seja do corpo, e afirmava a origem simultânea de um e de outro elemento; desde o primeiro instante da existência do embrião, a alma encontra-se nele com todas as suas potencialidades, que se vão manifestando à medida que o corpo se desenvolve.

São Basílio Magno († 379), irmão de S. Gregório de Nissa, adotou o pensamento deste. Por isto considerava assassinos os que provocam o aborto de um feto.

São Máximo Confessor († 662) abraçou a mesma tese, fundamentando-se do seguinte modo: se o corpo existe antes de ter uma alma, é um corpo morto, pois todo vivente possui uma alma. Se preexiste à alma racional, tendo uma alma meramente vegetativa ou sensitiva, segue-se que o ser humano gera uma planta ou um animal irracional — o que é impossível, pois toda planta provém de outra planta e todo animal irracional nasce de outro animal irracional, e não do homem.

Entre os defensores da animação mediata, está Teodoreto de Ciro († 466 aproximadamente). Apela para o livro do Gênesis, onde lhe parece que Moisés propõe a formação do corpo humano primeiramente e só depois a infusão da alma humana (cf. Gn 2,7).

É certo, porém, que entre os gregos prevaleceu a tese da animação imediata.
2.2 Os escritores latinos -
Entre estes destaca-se Tertuliano († 220 aproximadamente). Era favorável à animação imediata, argumentando, porém, a partir de um princípio que lhe valeu a réplica dos pósteros. Com efeito; Tertuliano defendia a animação imediata, julgando que as almas dos genitores desprendiam de si uma semente (tradux) da qual se originaria a alma da prole; por conseguinte, juntamente com os óvulos e os espermatozóides, os genitores transmitiram sementes de alma humana. Esta doutrina, chamada traducianismo, não preservava devidamente a espiritualidade da alma, mas reduzia a psyché humana à materialidade. Por isto os escritores latinos, desejosos de ressaltar a espiritualidade da alma, puseram-se a combater o traducianismo e, com este, a doutrina da animação imediata. Afirmavam: a concepção é obra dos genitores, mas a animação é obra direta de Deus, que cria e infunde a alma humana. Para bem distinguir uma da outra, distanciaram-nas também cronologicamente: a animação se daria tempos após a concepção da criança.

O autor do livro "De spiritu et anima", falsamente atribuído a S. Agostinho († 430), afirmava que o corpo vive a vida vegetativa e cresce no seio materno antes de receber a alma intelectiva ou humana. Outro autor anônimo, que foi confundido com S. Agostinho, comparava a formação de cada ser humano à formação de Adão: Deus só daria a alma intelectiva ao corpo humano depois que este estivesse formado, como aconteceu no caso de Adão (Quaestiones ex Vetere Testamento c. XXIII). Cassiodoro († 580) raciocinava do mesmo modo e acrescentava o testemunho dos médicos que estabeleciam a animação do corpo humano no quadragésimo dias após a concepção (De anima c. VIII). 
Cassiodoro, porém, observava que, em assuntos tão obscuros, seria melhor confessar a própria ignorância do que falar com temeridade arriscada.

Na Alta Idade Média a sentença da animação mediata foi reforçada pela difusão das obras de Aristóteles a partir do século XIII. S. Tomás de Aquino († 1274) a adotou com outros pensadores da época, estipulando a infusão da alma humana ou racional no 40.º dia para os indivíduos masculinos e no 80.º dia para os indivíduos femininos. Houve também aqueles que, seguindo uma insinuação do médico grego Hipócrates, estabeleciam o 30.º dia para o sexo masculino e o 40.º para o sexo feminino.

A partir do século XIII, algumas vozes, principalmente dentre os médicos, começaram a se fazer ouvir contra a hipótese dos pensadores medievais, de modo que aos poucos foi predominando a sentença da animação imediata. A Genética contemporânea, com seus apurados estudos, só contribui para confirmar definitivamente esta noção científica. Ver o testemunho do Dr. Jérôme Lejeune em PR 305/1987, p.457-461. Os defensores da animação mediata apelaram para três textos bíblicos, cujo alcance nos compete agora considerar.

3. Três textos bíblicos

Vêm ao caso Êx 21,22s.; Lv 12,2-5 e Jó 10,9-12.

3.1 O texto de Êx 21,22s. -

Segundo a tradução grega dos LXX, este texto supõe que um homem imprudente dê um golpe numa mulher grávida e provoque o aborto. Se a mulher morre ou se o fruto de seu ventre estava formado, a punição para o delinqüente será a morte ("morte por morte"). Se porém, a mulher não morre e seu fruto não estava formado, o réu pagará apenas uma multa. Este texto parece supor que existe feto formado, plenamente humano, e feto não formado, não plenamente humano. S. Agostinho e outros autores latinos (que usavam a Bíblia traduzida do grego para o latim) e gregos se apoiaram em tais versículos bíblicos para propugnar a animação mediata; cf. S. Agostinho, In Heptateuchum, II c. LXXX.

Em resposta, deve-se observar que a tradução grega citada não corresponde ao texto original hebraico, nem às versões latina (da Vulgata), samaritana, síria, árabe. Eis o mais verossímil teor do texto segundo o original hebraico:

"Se homens brigarem e ferirem mulher grávida, e forem causa de aborto sem maior dano, o culpado será obrigado a indenizar o que lhe exigir o marido da mulher, e pagará o que os árbitros determinarem. Mas, se houver dano grave, então dará vida por vida".

Esta lei quer dizer o seguinte: se o delinqüente provocar expulsão do feto, mas sem morte nem da mãe nem da criança, a punição será uma multa. Se, porém, houver morte ou da mãe ou da criança, o réu será condenado à morte. Como se vê, não há aí distinção entre feto formado e feto não formado.

O próprio texto dos LXX, ao falar de "feto formado" e "feto não formado", não tem necessariamente em vista os períodos de pré-animação e de animação; pode apenas referir-se à fase em que o embrião ainda é quase indiferenciado e àquela em que já pode ser identificado como ser humano. Como quer que seja, só pode ser utilizado, no caso, o texto hebraico como instrumento de argumentação, e não o texto grego.

3.2. Os dizeres de Lv 12,2-5 -

A Lei de Moisés prescreve quarenta dias de purificação às mulheres que tenham dado à luz um menino, e oitenta dias no caso de terem gerado uma menina. — Ora esta lei nada tem que ver com períodos de formação do feto no seio materno; mas foi por numerosos autores antigos considerada como símbolo de fases de animação. Esta consideração, porém, nada prova, pois um símbolo não é demonstração nem prova.

3.3. As palavras de Jó 10,9-12 -

Eis os dizeres de Jó:

"Lembra-te de que me fizeste de barro, e agora me farás voltar ao pó? Não me derramaste como leite e me coalhaste como queijo? De pele e carne me revestiste, de ossos e de nervos me teceste. Deste a vida e o amor, a tua solicitude me guardou".

Neste texto o autor sagrado menciona primeiramente a formação do corpo (pele, carne, ossos, nervos) e, depois, a entrega da vida como dom da misericórdia divina. Por conseguinte, a alma humana teria origem posterior ao corpo. Esta conclusão parece corroborada pelo paralelismo que o texto tece entre a formação do corpo de Jó e a do corpo de Adão, ambas partindo do barro, que só depois de plasmado recebeu a alma humana.

Em resposta, notamos que o autor sagrado quer apenas referir a ordem que vai do menos importante (corpo) ao mais importante (princípio vital); não há aí sucessão cronológica de fases de formação do ser humano. De resto, sabemos que o autor sagrado não tencionava oferecer uma descrição científica dos fenômenos que ocorrem na origem de uma criatura, de modo que é despropositado querer deduzir de tais dizeres uma sentença de Genética ou de Embriologia. Adão e Jacó são comparados entre si não sob o aspecto geneticista ou biológico, mas, sim, na medida em que ambos são objeto da Providência Divina.

4. Conclusão

Como se deduz das declarações dos Concílios e dos Papas atrás citados, a Igreja sempre foi contrária à ocisão de uma criança no seio materno. Acontece, porém, que não sabendo quando o feto se torna criança (ser humano) propriamente dita, os doutores antigos distinguiam a eliminação do feto antes do 40.º ou 80.º dia e o aborto propriamente dito. Não chegaram a legitimar ou aprovar aquela, mas julgaram que não podia ser considerada com tanto rigor como o aborto propriamente dito; veja-se a intervenção de Gregório XIV em 1591. Na verdade, a extração de um elemento não humano não pode ser tida como aborto.

Os antigos estavam, pois, condicionados pelo seu insuficiente conhecimento de Genética, mas por certo não toleravam o morticínio de uma criança, por mais incômoda que parecesse aos pais. Hoje em dia tal condicionamento desapareceu, de modo que se pode com mais nitidez e firmeza repudiar o aborto desde a concepção no seio materno, qualquer que seja a fase de evolução do feto.

A propósito ver:

BEUGNET, A., Avortement, em Dictionnaire de Théologie Catholique II/2, cols. 2644-2652.

CHOLLET, A., Animation, em Dictionnaire de Théologie Catholique I/2, cols. 1306-1320.

CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS, A Igreja e o Aborto. Ed. Paulinas, 1972.
HÄRING, B., Ética Médica. Roma 1973.

__________, Medicina e Manipulação. Ed. Paulinas 1977.
VARGA, ANDREW, Problemas de Bioética. Unisinos, São Leopoldo 1982.

VIDAL, MARCIANO, Ética de Atitudes, vol. 2º, Ed. Santuário, Aparecida 1979. 1. "De mulieribus quae fornicantur et partus suos necant, vel quae agunt secum ut utero conceptos excutiant, antiqua quidem definitio usque ad exitum vitae eas ab Ecclesia removet. Humanius autem nunc definimus ut eis decem annorum tempus secundum praefixos gradus paenitentiae largiamur."

Autor: Dom Estevão Bettencourt
Fonte: Rev. P&R Out/96"
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