sexta-feira, dezembro 09, 2016

A SUPREMACIA FEMININA



De todos os arvoredos nascentes, aquele, apenas o geminado pôde dar ao mundo sua continuação. De todas as espécies viventes de animais e vegetais, apenas um gênero deles pôde conceber diretamente seu semelhante.

O potencial que cinge, acossa, esmaga à tudo de maneira sutilmente explícita, com o temor e o fulgor que somente a extensa magnitude divina e feroz poderia ter: na justeza de Atena, na sensualidade de Afrodite Pandêmica, na assistência de Panaceia, no esplendor de Juno, na astúcia de Diana, ou mesmo na dissidência de Éris; em toda a história mundial conhecida, de Eva à Cleópatra, Rainha Vitória à “Dama de Ferro”, todas as personalidades femens que governaram a humanidade, possuem algo que às interliga, o sexo feminino; que faz com que possuam a própria energia vital da humanidade.

A figura feminina sempre foi uma figura de atração e enigma, mesmo antes da existência da civilização, bastam poucos minutos debruçando-se sobre a história mundial para dar-se conta de tal fato. É dela que originam-se os homens e à elas retornam do mesmo modo, o homem que procura o seio materno na tenra idade é o mesmo que o sorve em mulher, na maturidade. Não é a infinita superioridade que as perfaz, mas a sutileza com que persuadem o mundo. Não é a auto gestão que revela seu poder, mas a progênie de povos e nações auto geridos.

Ainda assim, o espírito perversor moderno, insiste em percorrer caminhos falhos, na insistência de dar original solução àquilo que já possui resposta, buscando suprimir a ignóbil existência abarrotada por suas dívidas com o passado, buscam expandir e não conter a devastadora energia feminina, num desenfreado apego à sua energia potencial criadora, absurdamente solta, sem as bases da prudência com o acréscimo da abastada paranoia, característica de nossos tempos. A caixa de Pandora foi aberta, e não saíram apenas os males do mundo, mas também as virtudes. Tal como disse Chesterton em sua Ortodoxia, “O mundo moderno não é mal. Sob alguns aspectos é excessivamente bom. Está cheio de virtudes insensatas e desperdiçadas. (...) Os vícios são de fato liberados e eles causam dano. Mas as virtudes também são liberadas; e as virtudes circulam muito mais loucamente, e elas causam um dano muito mais terrível. O mundo moderno está cheio de velhas virtudes cristãs enlouquecidas”, e em sua explicação final “As virtudes enlouqueceram porque foram isoladas umas das outras e estão circulando sozinhas”. Em resumo o que ocorre é justamente isso, proclamar a independência da virtuosa magia feminina de sua própria natureza feminina, tornando-a no fim apenas um ilusório hermetismo empobrecido.

Isolar a persuasão feminina da moderação resulta apenas em uma repulsiva manipulação, tal como a sensualidade autônoma de comedimento é a própria luxúria dramatizada, isolar sua força enérgica de sua sensatez equivale á própria insanidade. “Tornemos homens fracos, façamos mulheres loucas!”, poderia resumir o empenho de nosso século. Todas as catástrofes e violência sofridas ao longo dos anos na humanidade não poderiam justificar a postura ultrajante dos prosélitos da modernidade.

Violência sexual, violência física, violência psicológica, violência doméstica; acaso violência em sua essência não seria apenas violência? A infração, coerção e intimidação de um sujeito utilizando-se de força bruta. A errônea percepção sobre um ser distinto, supostamente superior em essência causou o equívoco. Pode-se considerar, claro, os diferentes tipos de infração, as diferentes motivações, as diferentes perspectivas sobre um ou outro ato, dezenas de explicações, mas há uma força, que permeia a todos os atos violentos, e independente de sua configuração ou do sexo que os pratica e contra o sexo á que se dirige, ele caracteriza-se como pura e propriamente um atentado, atentando contra a razão, atentado contra um indivíduo semelhante e mais que tudo, um atentado contra si mesmo. “Amai ao próximo como a ti mesmo”, o segundo mandamento como lei, aqui é quebrado, é mais que claro o papel da usura. E não adentrando nas justificativas correligionárias do direito penal, abarrotadas de perspectivas ideológicas completamente arbitrárias advindas da sociologia e da psicologia social, que há muito, abandaram o verdadeiro objetivo de suas ciências; agora servindo apenas de perfazentes de uma realidade paralela completamente anárquica de visão progressista. Mas sim considerando sua premissa primeira, a violência em nossos tempos parece eximir de si, como muitos outros atos maléficos, a culpa.

Delrymple disse “A violência, portanto, não é jamais uma pura e simples reação a condições sociais adversas. Não é como a chuva, que cai tão logo se verifiquem as devidas condições climáticas. E tampouco é em si mesma um sinal de injustiça social ou de uma situação política intolerável”. Não se justifica por si mesma, não contorna em diferentes cores seu traçado, tal como a violência contra o homem e contra a mulher não ganham faces diferentes frente à sua execução.

Homens e mulheres são absolutamente diferentes, de naturezas orgânicas, fisiológicas e anímicas distintas, mas, apesar de suas diferenças, o que move a violência em ambos os casos partirá de uma mesma essência, uma das faces do mal em sua forma executiva, contra o “eu” e contra o “outro”. Tal essência confluente que não abrirá espaço para o modo de penalidade moderno. A intenção de mergulhar na ótica mais profunda da violência contra a mulher levou as leis jurídicas e todo seu entorno consequente, apenas em um mar sem fim de especulações apocalípticas, sobre o mal do mundo e a subjugação feminina. Erram, não apenas por utilizar de filosofias suplantadas, mas na tentativa audaciosamente pérfida de trazer tais ideais filosóficos á realidade. Como pode-se considerar o funcionamento da condição humana em seus vícios, se, se ignoram as bases dessa natureza? Por que homens subjugam uns aos outros, não apenas mulheres? Por que mulheres também praticam violência, não apenas os homens? Mulheres também torturam, mulheres matam, mulheres persuadem, seduzem e são cruéis, tanto quanto os homens e por sua perícia podem tornar-se tão cruéis quanto e até mais. Como se explicam então essas questões? Á partir do ponto de vista contemporâneo, tais ações não são possíveis, se são, serão puro ato de justiça, uma bela filha da infâmia, geradora e disseminadora do caos, perfeito modo de proteger a violência que supostamente procuram suplantar. Á medida que se procura ver seres humanos, como propriamente seres humanos, nada mais que humano, muito provavelmente, essas questões serão respondidas.

A sensualidade desmedida, a explicitação das categorias mais baixas de preferência e valoração do ser, como indivíduo, demonstram verdades horrendas, aquém não apenas da desvirtuação e do mal gosto, mas de uma intenção caracteristicamente suicida, e de maneira assustadora, a nível coletivo. O deixar-se dominar pela barbárie através das próprias escolhas, desistir de qualquer polimento, em prol do fascínio pelo engrandecimento da própria decadência. Como bem relembra Mário Ferreira dos Santos em Invasão Vertical dos Bárbaros, “Os instintos bárbaros dos homens ameaçam soltar-se totalmente e, quando soltos, a sua fúria leva à destruição total. A história já nos revelou momentos semelhantes, como se viu na ação dos bárbaros em suas invasões. Uma humanidade sem leis destruiria toda a cultura e, se não for contida, terminará por destruir a si mesma.” E isso aplica-se ao novo papel que os sujeitos sociais vêm tomando, e as mulheres, a energia geradora, vigorosamente fértil e sempre mítica figura, agora toma ares de vilão, energia destruidora, infértil, causadora do caos. Shakespeare, ilustra brilhantemente através da sua peça A Megera Domada o papel bem vindo á mulher e que, quase profeticamente, se tornaria o retrato explícito do contrário á mulher moderna:
 
“A mulher irritada é como fonte
remexida: limbosa, repulsiva,
privada da beleza; e assim mantendo-se,
não há ninguém, por mais que tenha sede,
que se atreva a encostar os lábios nela,
a sorver uma gota. Teu marido
é teu senhor, teu guardião, tua vida,
teu chefe e soberano. É ele que cuida
de ti; manter-te, arrisca a vida,
com trabalho penoso em mar e terra;
nas noites borrascosas , acordado;
de dia, suportando o frio, enquanto
dormes em casa no teu leito quente,
tranquila e bem segura. Não te pede
outro tributo além do teu afeto,
mui sincera obediência e rosto alegre,
paga mesquinha de tão grande dívida.
A submissão que o servo deve ao príncipe
é a que a mulher ao seu marido deve.
E se ela se mostrar teimosa, indócil,
intratável, azeda rebelada
contra as suas adoráveis exigências,
que mais será senão por isso abjeta
traidora sim, traidora do seu próprio
devotado senhor? Tenho vergonha
de ver que são tão simples as mulheres,
para fazerem guerra onde deveriam
de joelhos pedir paz ou pretenderem
dominar, dirigir, mandar em tudo,
quando servir lhes cumpre tão-somente,
obedecer e amar? Por que motivo
temos o corpo delicado e fraco,
pouco afeito aos trabalhos e experiências
do mundo, se não for apenas para
que nossas qualidades delicadas
e nossos corações de acordo fiquem
como nosso hábito externo? Deixai disso,
vermezinhos teimosos e impotentes!
(...) Nossa força é fraqueza; somos criança
que mui ambicionando logo cansa.
Abatendo o furor nos exaltamos.
Ponde a mão sob os pés de vossos amos.
Caso o meu queira, a mim já está pronta,
para mim não consiste nisso afronta.
(V.ii)
                                                           
Claro que em sua opulência, tal peça não ficou livre da crítica dos movimentos de “empoderamente feminino” moderno. Pesquisas feministas e artigos, fizeram críticas severas ao texto, dizendo tratar-se de uma “subjugação á personagem feminina forte”. Não é necessário adentrar mais profundamente nessa discussão, o importante aqui é notar que desde sempre a figura feminina teve um papel crucial em diferentes polos da sociedade, mesmo no provérbio bíblico judaico-cristão, vemos a insitência nas dosagens da personalidade feminina "Melhor antes morar num canto lá do eirado, que com mulher rixosa sob o mesmo telhado". (Pv. 21,9) Catarina não diferente, chocou por sua personalidade deveras descomedida, e por permitir a liberação excessiva de sua extensão enérgica feminina, algo que, magicamente, somente as mulheres possuem naturalmente e aprendem a utilizar com prudência já em tenra idade. A figura feminina é a origem do todo, Gaia é mulher, criadora de todas as ordenações do mundo, a mãe Terra igualmente, possuindo em si toda a fertilidade; Deus, é masculino mas para gerar a si mesmo como homem recorreu ao ventre feminino. Ave Maria, disse o anjo, cumprimento de honra e graça, nunca dantes proclamado, apenas á mulher prodigiosa tal foi referido. Por uma mulher, Dante viajou, Inferno, Purgatório e Paraíso; A Divina Comédia é divina, mas por minutos é possível perguntar-se, Divino Deus ou Divina Beatriz? Ulisses por vinte anos percorre sua Odisséia para conquistar os dons que sua deusa protetora Atena o prometera. Em todos esses episódios, fictícios ou reais, a mulher opulente sempre está presente, seja na personalidade incisiva de Atena, ou na virginal docilidade de Maria. A mulher gera, tudo á ela retorna; ela dá a vida e também a tira; pode gerar homens fortes que irromperão nações ou tornar homens fracos que dela farão seu próprio santuário.

Não é de mais força feminina que a sociedade necessita, é do reconhecimento que tal força por si só já é existente, mas sem virtudes, sem a prudência para o comedimento e boas escolhas das ações, sem a justiça para o bom julgamento dos atos e a influência responsável, sem a fortaleza, para confiar em si mesma e lutar quando preciso, sem a temperança para a auto conservação, a humildade e a disciplina para auto crescimento, a força simplesmente sucumbe em si mesma, torna-se nada mais que uma fúria irracional e desmedida, que destrói a tudo que alcança e finda por eximir a si mesma. Esse é o reflexo de muitos dos movimentos políticos contemporâneos, em especial ativistas, que sem objetivos claros, isentos de bases construídas na lógica original, totalmente disformes, tornam-se apenas confrades da destruição em massa, das famílias, das relações interpessoais, da sociedade, de si mesmos.

Por Rebeca Dias


O Livro de Ouro da Mitologia Grega – Thomas Bulfinch, 2001.
Contos e Lendas da Mitologia Grega – Claude Pousadoux, 2001.
Shakeaspeare, A Invensão do Humano – Harold Bloom, 2001.
Ortodoxia – Chesterton, 2008.
Personas Sexuais – Camile Paglia.
Virtudes Fundamentais – Josef Piper, 1960.
Artigo – A Pobreza do Mal – Theodore Delrymple, Revista: Dicta e Contradicta.
Odisséia –  Homero, 1978.
A Bíblia Sagrada – Padre Antônio Pereira de Figueiredo.
Bíblia em Versos –  Isnard Rocha, 1992.

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