segunda-feira, setembro 18, 2017

ESTUDO BÍBLICO: Comunidade destinatária da Primeira Carta aos Tessalonicenses

Dando continuidade ao estudo das Cartas de São Paulo aos tessalonicenses, iremos conhecer um pouco sobre a comunidade a quem São Paulo se dirige. 



Comunidade destinatária

Tessalônica é uma cidade da Macedônica, capital de um dos quatro distritos da província romana do mesmo nome, unida a Roma pela via Egnácia, que conduzida à costa adriática, diante de Brindisi, isto é, ligando como o final da Via Ápia.

   A Importância da cidade deve-se à sua localização no vale do Áxios (ou Vadar), que abre um caminho entre o Mediterrâneo e o Danúbio. Na época de Paulo, o governador romano tinha ali sua sede, mas mantinham-se ao máximo as aparências de polis livre, com seus “politarcas” (At 17,6.8) autóctones, os quais, por sua vez, deviam estar vigilantes para que se mantivesse a autoridade do imperador contra qualquer suspeita de autêntica independência; deviam tomar as precauções necessárias a dar o alarme; portanto, se alguém lhes falasse de que alguns “contrariam o decreto de Cesar, proclamando outro rei: Jesus (v.7) deviam-lhe levá-los à presença dos magistrados.

Foi durante a segunda viagem que Paulo chegou a Tessalônica e lhes anunciou o Evangelho. Tessalônica, a cidade mais importante da Macedônia (norte da Grécia atual), era uma cidade cosmopolita, sua comunidade judaica era importante e tinha uma sinagoga.  

Em uma pólis normal existia, com pleno direito, a sinagoga como “etnarquia” dos judeus: com culto, escola e tribunal. Conforme At 17,2, Paulo começa o anúncio do Evangelho na sinagoga, “como era de seu costume”. Esse “costume” de Paulo era imprescindível nos lugares em que o Evangelho ainda não tivesse sido pregado: não somente pela convicção teológica de que a propriedade da salvação correspondia a Israel (cf. Rm1,16; 2,9s; At 3,26; 13,46), mas também pela necessidade prática de poder contar nas comunidades com elementos maduros, formados desde a infância no monoteísmo, na moral dos dez mandamentos e nas tradições narrativas (recheadas de sentido) do Antigo Testamento.  

Paulo chegou a essa cidade, depois de ter evangelizado Felipos, passando por Anfípolis (At 17,1-10). Dois de seus futuros companheiros, Aristarco e Segundo, procediam de Tessalônica (At 20,4).

A evangelização em Tessalônica é marcada pelas torturas e humilhações que Paulo e seus companheiros haviam sofrido por ação dos militares em Filipos, as quais lhes davam maior força (a Cruz de Cristo!) para levar adiante sua pregação “em meio de muitas lutas” (ITs 2,2).

Conforme At 17,2, Paulo pregou três sábados seguidos na sinagoga. Isso não significa que esteve somente três semanas em Tessalônica. Depois contou com outro lugar de reunião, sempre necessário para celebrar o Batismo e a Eucaristia: provavelmente, na casa de Jasão, onde os judeus foram procurar Paulo para fazê-lo comparecer diante da assembleia do povo quando o quiseram aprisionar (v.5).
Parece que Paulo em Tessalônica não sofreu perseguições, conforme At 17,6, pois os perseguidores não encontraram Paulo, mas “prenderam Jasão e alguns irmãos”; em seguida este foram soltos mediante a uma “fiança” (v. 9)

Paulo não se inclui quando fala das perseguições que os tessalonicenses sofreram. Quanto a atividade do Apóstolo naquela cidade, a primeira Carta aos Tessalonicenses é apresentada como um trabalho paciente de alguém que constrói uma catedral pedra após pedra: “Na qualidade de Apóstolo de Cristo (...) Todavia, nos fizemos discretos no meio de vós. Como a mãe a acariciar seus filhinhos, assim, em nossa ternura por vós, desejávamos não só comunicar-vos o Evangelho de Deus, mas até nossa própria vida, porquanto nos sois muito queridos. (...) e sabeis que procedemos com cada um de vós como um pai com seus filhos: nós vos temos exortado, estimulado, conjurado a vos comportardes de maneira digna de Deus. (Its 2,7s. 11s).
Por isso entendemos que, no mínimo, Paulo deve ter permanecido seis meses em Tessalônica, justamente por que esse trabalho não poderia ser realizado em uma semana nem em um mês.  Tinha de comunicar-lhes o Evangelho e, aos convertidos, precisava instrui-los sobre o novo modo de vida que representava a profissão de fé cristã. Com a paciência e o afeto de uma mãe e com a precisão técnica de um pai que quer transmitir a cada um de seus filhos tudo o que ele aprendeu durante a vida. Isso quer dizer que Paulo não pensa somente “na mensagem” (ou “no reino” ou “na Igreja”), mas está diante de seres concretos, cada qual com seus diversos problemas, e não somente enquanto os tem diante de si, mas também quando de longe se recorda deles (cf. IICor 11,28s).
Além disso, em Its 2,9 existe um detalhe que exigiu que Paulo permanecesse um bom tempo em Tessalônica: diz que se pôs a trabalhar. Logicamente, se sua permanência tivesse sido de poucas semanas, não teria buscado nem encontrado trabalho. Por parte de Paulo, naquela decisão havia algo mais que a delicadeza pessoal de “mão ser uma carga”; trabalhava para poder anunciar-lhes um “Evangelho gratuito” (ICor 9,16; cf. vv.1-18), um “dom de Deus” levado até as últimas consequências (IICor 11,7; cf. vv.9-11.

Era certamente humilhante, conforme o modo de entender as coisas na época, não se apresentar como sábio que faz “honrar” (nós também falamos de “honorários”, ou seja, o “pagamento honrado”) a própria sabedoria. Mas queria com isso distinguir-se totalmente dos filósofos ambulantes de sua época, que se entregavam ao lisonjeiro com o objetivo de ter mais ouvintes e, se não difundiam o erro, deixavam-se conduzir por intenções enganosas: motivos espúrios e vanglória (Its 2,3-6).
Devemos amenizar sobre o fato de trabalhar manualmente “noite e dia” (Its 2,9); “noite e dia” pode significar “intensamente”. Podemos imaginar que trabalhava de dia, quando se podia fabricar tendas ao ar livre; e de noite, ao entardecer, deve ter-se dedicado a instruir o povo (vv.7s.11s) ou falar com as pessoas que tinham sido convocadas durante o dia (pois falaria algo enquanto trabalhava).
 A pregação ao ar livre, as sinagogas ou pelas praças, devia ter ficado para os sábados ou para as festas civis da cidade onde se encontrava.

No próximo capitulo em continuação a esse estudo, iremos detalhar sobre as circunstâncias levará São Paulo a escrever a Primeira Carta aos Tessalonicenses.

Paz e bem a todos


Fonte: Bíblia Ave Maria; Edição de estudos teológico 3 º edição. Tradução dos originais grego, hebraico e aramaico mediante a versão dos monges Beneditinos de Maredous  (Belgica).

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