sexta-feira, agosto 26, 2016

EVANGELHO: Um camelo pode passar no fundo de uma agulha? Mc 10,17-27



EVANGELHO – Mc 10,17-27

17 Tendo Jesus saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: “Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?”. 18 Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Só Deus é bom. 19 Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”. 20 Ele respondeu a Jesus: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha mocidade”. 21 Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: “Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. 22 Ele entristeceu-se com essas palavras e se foi todo abatido, porque possuía muitos bens. 23 E, olhando Jesus ao redor, disse a seus discípulos: “Quão difícil é um rico entrar no Reino de Deus!”. 24 Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: “Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! 25 É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus”. 26 Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: “Quem pode então salvar-se?”. 27 Olhando Jesus para eles, disse: “Aos homens, isso é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível”. 

É interessante vermos que estamos diante de um dos discursos duros de Jesus, que assusta aqueles que olham pela primeira vez o Evangelho.

Muito já se discutiu entre os estudiosos sobre essa passagem, e já foram formuladas muitas teorias para amenizar a dureza de Jesus para com os ricos, mas o que queremos demonstrar aqui é que o Mestre não estava abrandando nada para os que possuíam muito, mas estava os repreendendo duramente.

Uma das conclusões a qual alguns estudiosos chegaram era a de que camelo, em grego, significava uma corda grossa com que se amarravam os barcos. E que agulha seria uma pequena porta situada num dos grandes portões da muralha de Jerusalém. Ou seja, ambas as interpretações deixam mais “mansa” a afirmação de Jesus. Mas seria isso mesmo?

Em grego, a palavra kámelos (κάμηλος) significa exatamente o nosso camelo, palavra traduzida do latim camelus. Em Mc 10, 25 e em Lc 18, 25 a palavra usada é kámelon (κάμηλον), claramente para se referir ao animal. Com certeza, esse nome grego provém da palavra hebraica gamal (למג), que é usada para identificar aquele mamífero ungulado (Camelus Bactrianus), encontrado nos nossos zoológicos brasileiros.


"...para os ricos, a dificuldade é ainda maior para se alcançar a plenitude da vida, pois para um camelo atravessar o buraquinho da agulha é necessário que a 'vaca tussa', primeiramente!"

Já o termo grego para agulha é raphís (ραφίς), aquele objeto usado para costurar – claro que era bem maior naquela época. Lucas usa o termo belónes (βελόνης), que significa agulha cirúrgica, usada para cuidar da saúde das pessoas.

Seja como for, não podemos ignorar que as palavras nos dizem muitas coisas da comparação de Jesus. Ele queria deixar bem claro que, para os ricos, a dificuldade é ainda maior para se alcançar a plenitude da vida, pois para um camelo atravessar o buraquinho da agulha é necessário que a “vaca tussa”, primeiramente!

Mas devemos entender, hoje, que Jesus se referia às dificuldades apresentadas a uma pessoa que acumulava bens em excesso. Aquele homem rico era bom e queria ajudar as pessoas, mas não era capaz de reconhecer a sua finitude e a futilidade de seus bens. Nos nossos dias, essa passagem pode ser estendida a todos aqueles que não conseguem se livrar de suas maldades, sejam ricos ou pobres.

Não devemos lutar contra os ricos de nossa sociedade, mas temos de cobrar daqueles que se enriquecem com o dinheiro público, para que consigamos tirar os pobres e os miseráveis dessa condição social injusta! Muitos pobres também são egoístas e avarentos, por isso não devemos ser cruéis com ninguém. O que temos de fazer é “vender” todo o nosso apego e seguir Jesus radicalmente. E para isso, todos são convidados – ricos e pobres!

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