domingo, julho 17, 2016

Por que o Brasil precisa ler G. K. Chesterton? Quem foi G. K. Chesterton?


Gilbert Keith Chesterton nasceu numa cidadezinha chamada Kensington. Filho de Edward Chesterton e de Marie Louise Grosjean, cresceu em um lar muito espirituoso e imaginativo. Seu pai, um amante da arte e da velha cultura vitoriana, despertou nele desde pequeno o: “olhar de criança”, este olhar seria seu parâmetro em todo seu pensamento filosófico posterior. Entre castelos de papelão e livros fantásticos ele cresceu; vivendo numa casa onde sempre encontrou o debate como princípio básico de convivência, onde seu irmão, com tendências mais modernistas e socializantes, fazia render longas e profundas discussões, ele ia ganhando a postura de um grande polemista e retórico. Sua juventude foi marcada por uma certa solidão e introspecção, o que lhe trouxe certas dificuldades de relacionamento humano, todavia, trouxe-lhe também uma imensa facilidade de render horas imaginativas em seus escritos.

Aos poucos, nos jornais estudantis de seu colégio, sua genialidade na escrita começou a se destacar. Sua retórica aguçada e sua recusa ao “politicamente correto”, começou a chamar atenção dos criticados e daqueles que concordavam com suas críticas; não demorou muito para que seus escritos inundassem os jornais da velha Inglaterra. Sua escrita sempre limpa e humorizada trazia consigo uma multidão de leitores, dos mais variados. Sua genialidade não se restringiu aos textos críticos, ele escreveu prosas românticas, ficções, poesias, novelas, enfim, ele divagou em todas as formas literárias.


Suas convicções e crenças foram mudando ao longo da sua vida. Sua vida política, que navegou do liberalismo até a um conservadorismo não admitido, terminou por estar cada dia mais perto do que hoje chamamos “liberal-conservative”. No entanto, negou este título — como lemos em sua autobiografia. Anglicano tradicional em sua infância — religião de sua família —, em sua adolescência ele começou a se considerar um agnóstico, algo que foi mudando já na sua maturidade filosófica. Dizia que tudo aquilo que ele defendia através do bom senso, todas as lutas que valiam a pena ser travadas, o catolicismo já havia travado e ainda estava a travar. O que culminou em sua conversão oficial ao catolicismo Romano em 1922. Evento que causou grande reboliço no mundo jornalístico da Inglaterra e do mundo. Afinal, ele já era um conhecido retórico, sua fama no mundo se espalhou pela sua genialidade na escrita e por sua facilidade em defender ideias tradicionais de uma forma clara e contundente.

Por que Chesterton é tão necessário assim para a modernidade? 

São vários os motivos, mas principalmente porque Chesterton mostrou que somos responsáveis pelas ideias que defendemos e propagamos. Chesterton possui algo que poucos intelectuais possuem, algo que deveria ser uma lei moral para quem pretende-se a estudioso e crítico. Ele não tinha medo de mudar de opinião, não possuía nenhum compromisso ideológico e nem mesmo religioso. Ele sempre estava aberto a mudar suas concepções, bastava convencê-lo. O que não era nada fácil, já que o debate era sua especialidade; talvez fosse ele o melhor debatedor de seu tempo. Chesterton se converteu ao catolicismo, abandonando o agnosticismo, não por conveniência, até porque não era lá muito conveniente ser católico numa Inglaterra tomada pelo materialismo político e pelo amor ao ateísmo. Converteu-se, pois, adquiriu uma profunda convicção de que alí havia a verdade última. Aliás, outra implicação virtuosa de seu caminhar, e que nos serve de exemplo, é este: ele não possuía medo de falar que havia uma verdade, uma verdade última. Numa época acostumada a vomitar respeitos tolos, numa época que tudo é verdade inclusive a mentira, ele ousou dizer que existe sim algo no qual podemos denominar “verdade última”.

Chesterton não teve medo de contrariar o passado, não se comprometeu com as modas da atualidade e nem prostituiu-se com utopias. Chesterton só teve uma preocupação, buscar incansavelmente a verdade. Quando teve de defender dogmas católicos, assim o fez; quando teve de apontar o dedo na face de Bernard Shaw, seu amigo, e dizer: você está errado, não titubeou. Mostrou a todos que não é falta de humildade dizer que sua opinião é a verdadeira e a do seu adversário é falsa. Ensinou que debate não é briga, e que opiniões diferentes não justificam guerras.

Chesterton é urgente, pois ele foi um homem conservador que buscava evoluir. Ele foi um homem que guardou aquelas bagagens humanas que, sem elas, não há futuro. Sua luta foi pelo óbvio, contra a insensatez protegida por montantes de emoções e revoltas amorfas. Chesterton não quis esconder a sujeira humana embaixo de sentimentalismo, não quis compensar os erros humanos propondo uma saída política salvífica. Quando falou de salvação apontou para Cristo, não para Marx ou Adam Smith. Chesterton defendeu que devíamos olhar o mundo pelos olhos de uma criança, ou melhor, devíamos possuir o olhar de criança. Devíamos olhar para tudo com aquele espanto primeiro, deveríamos olhar para aquela árvore que há duas décadas está em frente a nossa casa e enxerga-la como se fosse a primeira árvore que viu em toda a sua vida. O espanto do real torna tudo novo mesmo sendo visto todos os dias. A vida não é enfadonha, enfadonho é deixar de ver a graça que está atrás de cada poesia, de cada sorriso. Assim foi, até o último dia de sua vida, sua forma de ver o mundo. Por isto, talvez, todos tentavam entender porque aquele montante de inteligência descomunal conseguia ter a aparência jovial de uma criança. Chesterton fez as mais inteligentes críticas que a Inglaterra pode ler na modernidade, fez brincando.

Se os homens tivessem metade da virilidade intelectual deste homem, hoje, talvez, estaríamos diante de uma nação que é capaz de grandes descobertas como, por exemplo: a grama é verde. Quantos milagres não possuem neste fato? Hoje, se eu digo algo como: eu fui atropelado por um ônibus, um socialista sairá do ralo mais próximo, levantará o dedo na altura de meu nariz e, com toda a experiência militante de um petista me dirá: não concordo.


Chesterton foi conhecido, entre seus milhares de títulos, o filósofo do senso comum. Pois ele ousou dizer verdades óbvias que o mundo moderno contestava em grandes teses de doutorados que nada provavam. Doutores precisavam escrever 400 páginas para tentar provar que um homem não é homem. Chesterton apenas ria e perguntava sobre a funcionalidade sexual do corpo humano. Posso imaginar as feministas modernas perdidas em milhares de elucubrações pseudo-cintíficas, para mostrar que todos os homens são estupradores em potencial; posso imaginar, também, Chesterton sentado com uma boa cerveja na mão, numa taverna qualquer de Beaconsfield, sorrindo inconsolavelmente ao dizer: “conte-nos mais sobre seus projetos de banheiros neutros então”.

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Principais obras de Chesterton: “Hereges”, “Ortodoxia” e “O homem eterno”. Foram tais obras que colocaram Chesterton entre os grandes filósofos e teólogos do século XX; há também obras periféricas, entretanto, de suma importância para compreensão de seu pensamento: “Autobiografia”, “O que há de errado com o mundo” e “O defensor/ Tipos variados”. Recomendaria começar a leitura seguindo a ordem que acima foi dita. O auge de seu pensamento está nesta sequência. Caso queira ler um livro que comente sua vida e obra, indico: “Três alqueires e uma vaca” de Gustavo Corção, todavia, creio que só acharão esta obra em sebos.

Hereges: Uma obra onde ele traça as principais e mais contundentes críticas aos pensadores contemporâneos a ele. Esta obra foi o impulso inicial para a seu principal escrito: Ortodoxia.

Ortodoxia: O livro que tornou Chesterton o gigante do pensamento cristão, neste livro ele traça sua filosofia e seus pensamentos basais que deram-lhe abertura ao catolicismo romano. Seu principal escrito.

O homem eterno: Uma belíssima obra que dá uma escrita poetizada e leve à história de Cristo. Neste livro ele delineia a teologia que levou-o ao cristianismo.

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