terça-feira, julho 05, 2016

Um pouco de Filosofia: “É verdade porque eu vi!”


Costumeiramente, confundimos amor e ódio, dor e alegria, como também, realidade e ilusão. É verossímil, que muitas vezes repetimos esta afirmação sem uma elaboração científica metodológica a respeito dos termos citados: É verdade porque eu vi! Analisando estes termos podemos observar que nem sempre o que se vê corresponde à realidade, pois o sentido da visão pode enganar o sentido intelectual. Mesmo vendo fatos que comprovam, existe uma possível contestação. O fato de “ver” não quer dizer que “é” o que se vê. Dois elementos são verificados: ver (Eu vi) e dizer (É verdade), mas tudo que se vê é verdade? E a verdade se vê ou é caracterizada por uma ordem intelectual e cientifica?


É preciso incluir na afirmação um terceiro elemento que está implícito e oculto, atribuído ao caráter da verdade. Quando afirmo que é verdade porque eu vi, eu emito um juízo de valor de algo anunciado como verdade e então é verdade o que é dito de tal realidade. Entretanto, não posso afirmar que o que eu penso da realidade é o que eu dela digo, pois não é suficiente dizer que a realidade é o que eu dela vejo.

Examinando os pressupostos, compreendemos que é por meio da visão entre outros sentidos, que chegamos à realidade exterior dos fatos, mas vale a pena ressaltar que a desconfiança aumenta quando consideramos que todos podemos “ver uma porção de coisas” que nem por isso constituem realidade exterior. Como por exemplo, o que sonhamos (em sonho) não se traduz em realidade, por que o sonho não é precisamente realidade. O simples fato de ver, não permite distinguir as imagens e lembranças da realidade, mesmo as mesmas podendo ser até deformadas da realidade. 

Muitas vezes a realidade da visão não corresponde a visão da realidade. É preciso identificar, selecionar usando os sentidos de ordem e também a memória, a imaginação e a inteligência conceitual. Um exemplo claro é que se paramos em frente ao sol diremos que a terra é maior que o sol. Mas é preciso levar em conta o nosso ponto de visão e a inteligência conceitual (ciência) que nos dirá que o sol é maior que a terra. O que vemos, ouvimos e falamos se difere muitas vezes do real, que é o que é e não o que digo, vejo ou sinto.

Contudo, temos uma aplicabilidade deste pensamento filosófico, principalmente se analisarmos o conteúdo transmitido pela mídia: novelas, filmes, comerciais e em especial, os nossos telejornais, que muito tendem a formar ou deformar a nossa consciência sobre uma determinada realidade social, econômica, religiosa ou cultural. Geralmente eles já sabem o que querem produzir, perguntar, falar, comentar, impressionar, informar. No entanto, muitas vezes não estão preocupados em investigar, ouvir partes envolvidas... querem é mostrar e o telespectador, ouvinte ou leitor apenas assiste, ouve ou lê, e ao se impressionar com o que viu, ouviu e leu, crê: É verdade porque eu vi, ouvi e li! A verdade se esconde em fragmentos, onde os nossos olhos podem não ver e os nossos ouvidos não ouvir.

Tema: Filosofia

Fontes:
De, SEARLE, John R. mente, Linguagem e Sociedade: filosofia no mundo real. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

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