quarta-feira, maio 25, 2016

Quantos “Pai-Nossos” Jesus ensinou a rezar?


Uma coisa que poucos cristãos sabem é que na Bíblia existem duas versões do Pai-Nosso. Uma no Evangelho de São Mateus e outra no Evangelho de São Lucas. Qual das duas foi a que realmente Jesus ensinou?


 Devemos levar em conta que os dois “Pai-Nossos” estão narrados em momentos diferentes. Segundo São Lucas, Jesus ensinou esta oração a seus discípulos, privadamente, num dia em que estava rezando sozinho num lugar afastado. Ao terminar sua oração, atendendo o pedido dos apóstolos, Jesus lhes falou: “quando vocês rezarem, digam assim”. E lhes ensinou as palavras do Pai-Nosso (11, 2-4).

Para São Mateus, Jesus ensinou o Pai Nosso diante de uma grande multidão, no sermão da montanha. Ali, quando lhes dizia que a oração não precisava de ser feita com muitas palavras, lhes propôs a recitação do Pai-Nosso (6, 9-13).
Está claro, pois, que durante a sua vida o Senhor ensinou o Pai-Nosso a seus Apóstolos. O problema surgiu, porém, anos mais tarde, quando Mateus e Lucas redigiram seus Evangelhos. Então cada um colocou o Pai-Nosso ande ficava melhor, segundo a sua própria teologia. Deste modo, Mateus o situou no discurso inaugural de Jesus. Porque, sendo este sermão “programático”, no qual deixava o “programa” para o Reino dos céus, não podia faltar nele o tema da oração.

Diferentemente, Lucas coloca o Pai Nosso no longo percurso da caminhada de Jesus, rumo a Jerusalém, já que, para este Evangelista, o homem deve aprender a rezar enquanto vai pelas estradas da vida, a fim de viver em contínua união com Deus.

Agora, se compararmos as duas versões vamos ver que a de Lucas é mais breve: só têm cinco petições e diz assim: “Pai, santificado seja o Teu Nome. Venha o Teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de amanhã. E perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos que nos devem; E não nos deixes cair em tentação” (11, 2-4).
A de Mateus é mais longa. Inclui sete petições. O texto é assim: “Pai-Nosso, que estás no céu, santificado seja o Teu Nome; venha o Teu Reino; seja feita a Tua Vontade, assim na Terra como no Céu. Dá-nos hoje o pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” (6, 9-13).

A maioria dos biblistas sustenta que a versão de Lucas é a mais antiga e talvez, a que realmente Jesus ensinou. Por quê? Porquê se o “Pai-Nosso” de Mateus (isto é, o mais longo) fosse o original, não se entenderia porque Lucas o tenha encurtado. Ao passo que, se o “Pai – Nosso” de Lucas (o mais breve) é o original, podemos compreender que Mateus, inspirado pelo Espírito Santo o tenha alongado, a fim de adaptá-lo melhor à forma de pensar de seus discípulos Judeus.

Quais foram as mudanças introduzidas por São Mateus na sua versão do Pai-Nosso? 

Em primeiro lugar, em vez de dizer simplesmente “Pai”, como São Lucas, acrescentou “Nosso” – “Pai-Nosso”. 

Por quê? - Porque Mateus era um Judeu que escrevia para Discípulos Judeus (ao passo que Lucas escrevia para Discípulos Pagãos). E o povo Judeu tinha o costume de dar a Deus o título de “Pai Nosso”. Podemos conferir como isto acontece lendo algumas passagens do Antigo Testamento: Is. 63. 16; Jr 3, 4; 31a; Mal. 2. 10; Sl. 89, 27. E eles, os Judeus, sempre começavam suas orações com a invocação “Pai Nosso”. E, logo em seguida, para evitar qualquer aproximação desrespeitosa de Deus e exaltar a sua Santidade e Transcendência, os Israelitas costumavam acrescentar “Que estás nos céus”. Podemos confirmar isto pela “mishna”, uma coleção de ensinamentos e reflexões judaicas dos grandes Rabinos Antigos de Israel. Ali é comum encontrar a frase: “Nosso pai que está nos céus.”

Portanto, Mateus começou seu “Pai Nosso” com esta fórmula para fazê-lo mais familiar à mentalidade de seus Discípulos Judeus.

A segunda mudança feita por Mateus foi acrescentar, logo depois das duas primeiras, uma terceira petição: “seja feita a Tua Vontade, assim na terra como no céu”. Como bom judeu, ele sabia que é ponto essencial em qualquer oração, pedir que se cumpra a vontade de Deus.

Onde buscou Mateus a inspiração desta fórmula? 

Muitos acham que foi no Salmo 135,6: “Tudo o que Deus quer que se faça, seja feito, assim na Terra como no Céu” ou no Salmo 115,3: “Nosso Deus faz tudo que quer, tanto na Terra como no Céu”.

A última modificação de Mateus está no final da oração. Enquanto Lucas termina: “Não nos deixes cair em tentação”, Mateus acrescenta: “ e livra-nos do mal”.
Na realidade esta petição é paralela a anterior e não diz nenhuma novidade. Se alguém está protegido para não cair em tentação, ipso facto, está livre do poder do mal. Esta petição somente expressa positivamente o que a anterior diz de modo negativo.

Por que, então, Mateus colocou esta petição?

 Talvez para que a oração do Senhor tivesse sete petições. Para a mentalidade dos Judeus o Sete era o número perfeito. E, com isto, possivelmente, quis demonstrar que esta oração contém em si uma perfeita totalidade à qual não se pode tirar ou acrescentar mais nada.

Nós, porém, não precisamos recorrer ao simbolismo do número para chegar à mesma conclusão. Se analisarmos cuidadosamente a oração do Pai Nosso e o seu sentido interior, descobriremos uma perfeição e uma riqueza insuperáveis que, na verdade, não admitem qualquer supressão ou acréscimo. Com efeito, a primeira coisa que salta à nossa vista é que a oração esta dividida em duas partes. A primeira, com três petições referentes a Deus: 

a) Santificado seja o teu nome; 
b) venha o teu reino; 
c) faça-se tua vontade. 

A segunda parte, também com três petições (mais uma acrescentada) referentes a nós e às nossas necessidades:

a) o pão; 
b) o perdão dos pecados; 
c) não cair nas tentações.

Chama nossa atenção a ordem das petições. Primeiro estão as relacionadas com Deus e seu projeto salvífico, e logo depois as petições relativas à nossas necessidades pessoais.

Com isto Jesus quis nos ensinar que, somente quando Deus ocupa em nossa vida o primeiro lugar, é que tudo mais passa a encaixar-se em seu devido lugar. Com a oração nunca se deve querer torcer a vontade de Deus, adaptando-a aos nossos caprichos. Só quando se procura conhecer o que Deus quer de nós e da sociedade que podemos rezar adequadamente sem temer que nossos pedidos estejam sendo impróprios ou superficiais.

A segunda parte do Pai Nosso, que apresenta as nossas necessidades, forma, por sua vez, um conjunto maravilhosamente alocado. Alude às três necessidades essências do ser humano. E, ao mesmo tempo, engloba as três esferas do tempo nas quais nos movemos e somos. Primeiro se pede o pão de cada dia: assim apresentamos a Deus as necessidades do Presente. Em seguida, se pede perdão pelos nossos pecados: é colocado diante de Deus o nosso Passado. E, em terceiro lugar, se pede ajuda nas tentações: colocamos na mão poderosa do Senhor o nosso Futuro.

Deste modo, com estas três breves petições, nos é ensinado a colocar toda nossa vida - Passado, Presente e Futuro – no coração misericordioso de Deus.

E mais, a oração do Pai Nosso é tão magnificamente elaborada que, não só eleva e coloca a totalidade da vida humana diante da providência amorosa de Deus, como também, faz descer a totalidade de Deus até nossa vida.

Com efeito, quando pedimos o pão para nosso sustento diário, espontaneamente pensamos em Deus Pai, criador e conservador da vida. Quando pedimos perdão, logo nos lembramos de Deus Filho, o Salvador que deu sua vida em resgate dos nossos pecados. E, quando pedimos ajuda para não cairmos nas tentações, imediatamente pensamos no Espírito Santo, guia e força dos cristãos em suas vidas.

De um modo maravilhoso a segunda parte de Pai Nosso toma todo nosso passado, nosso presente e todo nosso futuro e os oferece a Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O homem todo se une ao Deus total, num belíssimo encontro de amor e de vontades.

Mais uma pergunta podemos fazer: Jesus rezou, algumas vezes, outras orações? 

Sim. Os evangelhos trazem algumas. Por exemplo, quando os discípulos voltaram de uma exitosa missão, exultando de alegria, Jesus bradou: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas dos sábios e prudentes e as revelastes aos pequenos” (Lc. 10, 21).

Noutra oportunidade, na ressurreição de Lázaro, assim Jesus orou: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves, mas eu falo por causa das pessoas que me rodeiam, para que acreditem que Tu me enviaste” (Jo. 11,41).

Durante a última ceia, no meio das tristezas de sua despedida, a oração que fez na frente de seus apóstolos dizia: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o Filho glorifique a Ti, pois lhe deste poder sobre todos os homens” (Jo. 17, 1-2).

E, quando se retirou para rezar na gruta de Getsemani, prevendo já o desenlace iminente de sua dramática morte, rezou: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Contudo não se faça a minha vontade, mas a tua” (lc. 22,42).

Na cruz, rezou pelos soldados: “Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem” (Lc 23, 34). Na sua agonia orou ao Pai: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes...” (Mc. 15, 34). E, finalmente, morreu rezando: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (lc. 23, 36)

Por: Prof. Amadeu Pereira - Colaborador do Blog 

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