UM ALUNO pergunta-me o que faço para lembrar com certa facilidade das coisas que li. Bem, como a resposta pode ser útil para outras pessoas além dele, eu a darei de público.
Com Santo Tomás, aprendi que EXISTEM A MEMÓRIA NATURAL (um dos quatro sentidos internos) E A TREINADA, sendo esta última a arte de rememorar, a qual pressupõe algumas regras.
Eis os conselhos básicos do Aquinate:
> BUSCAR SIMILITUDES IMAGÉTICAS das coisas de que se queira lembrar. Neste caso, as imagens podem e devem ser um tanto extravagantes, pois a alma se prende mais ao que é fora do vulgar;
> Tais imagens, sejam quais forem, devem ser intencionalmente dispostas em determinada ORDEM, de modo que de um ponto se passe a outro quase naturalmente;
> Deve-se ter ATENÇÃO ao que se queira lembrar, ou, em termos contemporâneos, FOCO. Em suma, quem se entrega por inteiro a uma atividade tende a lembrar dela com maior facilidade do que a pessoa desatenta ou superficial;
> É necessário MEDITAR acerca do que se queira lembrar, pois recordamos melhor das coisas sobre as quais pensamos com freqüência.
Estes quatro tópicos são hauridos de Cícero e de Aristóteles e sintetizados pelo gênio medieval com maestria.
Há mais: evitar, habitualmente, aglomerações ou lugares agitados é outro conselho de Santo Tomás pegado de empréstimo a Cícero**, para quem "solitudo conservat integras simulacrorum figuras", ou seja, o lugar solitário e silencioso ajuda a conservar as imagens de que a memória se vale para operar. Tomás apenas troca "solitudo" por "sollicitudo", ou seja, solidão por solicitude.
Não por outro motivo, se uma pessoa não é capaz de atenção e recolhimento, torna-se quase impossível para ela exercitar a memória.
Como se vê, são conselhos de uma desconcertante simplicidade...
No mais, faça o que fizer com AMOR, o qual potencializa de maneira extraordinária as energias psíquicas.
** Trata-se do livro "Rhetorica ad Herennium", cuja autoria é hoje posta em dúvida por vários estudiosos.
Professor Sidney Silveira
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