A matança dos inocentes pertence, como o episódio da estrela dos Reis Magos, ao evangelho da infância de São Mateus. Mas é historicamente comprovado?
O Massacre dos Inocentes, Peter Paul Rubens, óleo sobre madeira, 1636-1638, Alte Pinakothek, Munique, Alemanha
A matança dos inocentes pertence, como o episódio da estrela dos Reis Magos, ao evangelho da infância de São Mateus. Os Magos haviam perguntado pelo rei dos judeus (Mt 2, 1) e Herodes – que ocupava o posto de rei dos judeus na época – inventa um estratagema para averiguar quem poderia ser aquele que considerava um potencial usurpador, pedindo aos Magos que o informassem ao seu regresso. Quando sabe que voltaram por outro caminho, “ficou muito irado e mandou massacrar, em Belém e nos seus arredores, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado aos Magos" (Mt 2,16).
A passagem evoca outros episódios do Antigo Testamento: também o Faraó havia mandado matar todos os recém nascidos dos hebreus, como conta o livro do Êxodo, mas salvou-se Moisés, que depois libertou o povo (Ex 1,8 – 2,10).
São Mateus também diz na passagem que, com o martírio dessas crianças, cumpriu-se um oráculo de Jeremias (Jr 31,15): o povo de Israel foi para o desterro, mas dali o tirou o Senhor que, em um novo êxodo, o levou à terra prometendo-lhe uma nova aliança (Jr 31,31). Portanto, o sentido da passagem parece claro: por muito que se empenhem os fortes da terra, não podem opor-se aos planos de Deus para salvar os homens.
Nesse contexto deve-se examinar a historicidade do martírio das crianças inocentes, do qual só São Mateus nos dá notícia. Na lógica da investigação histórica moderna, diz-se que “testis unus testis nullus", somente um testemunho não serve. Porém, é fácil pensar que a matança dos meninos em Belém, uma aldeia de poucos habitantes, não foi numerosa e, por isso, não passou aos anais.
O que é certo é que a crueldade manifesta é coerente com as brutalidades que Flávio Josefo conta-nos de Herodes: mandou asfixiar seu cunhado Aristóbulo quando este alcançou grande popularidade (Antiguidades Judaicas, 15 & 54-56), assassinou seu sogro Hircano II (15 & 174-178), outro cunhado, Costobar (15 & 247-251), sua mulher Marianne (15 & 222-239); nos últimos anos de sua vida, mandou assassinar seus filhos Alexandre e Aristóbulo (16 & 130-135), e cinco dias antes de sua própria morte, outro filho, Antipatro (17 & 145); finalmente, ordenou que, na iminência da sua morte, fossem executados uns notáveis do reino para que o povo da Judéia, querendo ou não, chorassem a morte de Herodes (17 & 173-175).
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BIBLIOGRAFIA
DANIELOU, J. Los evangelios de la infancia, Herder, Barcelona 1969.
MUÑOZ IGLESIAS, S. Los evangelios de la infancia IV, Herder, Barcelona 1969.
PUIG, A. Jesús. Una biografía, Destino, Barcelona 2005.
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