Recebemos do leitor que se identifica
como "Rafael", em nosso post "Réplicas da Arca da Antiga
Aliança e outras insanidades",
os comentários que reproduzimos abaixo:
"Henrique,
uma duvida, se eu não for católico, eu não tenho salvação, é isso?? (...)
Realmente está complexo essa linha de pensamento, porque isso é muito
"limitado" você representar Cristo à Igreja Católica, acredito sim
que você precisa da Igreja de Cristo, precisa estar no corpo, unidos, mas logo
vocês falam q a unica Igreja de Cristo é a Católica, falo com amor e respeito,
"muito complicado, egoísta essa linha de pensamento, dizer: "pra
salvar, eu preciso estar ligado a Igreja, a unica Igreja de Cristo, a Igreja
Católica. Penso muito naquela passagem de Mateus 12:30 - Quem não é comigo é
contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Somos de Jesus, acreditamos em
Cristo, como nosso Senhor e Salvador, então fico triste com essas jargões, sou
da Igreja Batista, e sou muito amado, muito bem cuidado, ali aprendo, escuto a
palavra de Deus, aumento minha fé, porque a fé vem pelo ouvir, faço parte do
Corpo de Cristo, e não sou "Católico", a Salvação é Dom de Deus, Efésios
2:8 - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é
dom de Deus. Efésios 2:8 - Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e
isto não vem de vós, é dom de Deus."
HONESTAMENTE,
RAFAEL, não entendo suas críticas. Você me pegou num dia em que estava
completamente sem tempo, e eu não gosto de fazer nada mal feito, nem pela
metade. Então, como eu não podia lhe responder como se deve, para ao menos não
deixá-lo sem resposta, tentei indicar outras fontes confiáveis onde você pudesse
esclarecer suas dúvidas. Vejo, porém, que você não se aquieta, – continua
insistindo e repetindo que somos egoístas, que achamos que só nós é que seremos
salvos, que isso não combina com o Amor de Jesus, e mimimimi(como
diz meu filho de 15 anos, não leve a mal, é uma brincadeira)... Então, você
conseguiu: vou responder aos seus comentários em forma de post, tentando deixar
as coisas bem fáceis para você, da maneira mais simples e clara possível.
Em
primeiro lugar, você me pergunta se fora da Igreja existe salvação. Bem, sendo
este aqui um site católico, – e creio que isso esteja bem claro, – se você vem aqui fazer
essa pergunta, evidentemente está buscando a resposta católica. Muito bem. A
resposta católica para esta pergunta, a qual ninguém é obrigado a adotar,
porque cada indivíduo está obrigado a observar, antes de qualquer coisa, à sua
própria consciência (e isso faz parte da própria doutrina católica), é a
seguinte: não e sim; sim e não. Isso mesmo. Por isso é que eu lhe disse que
essa questão, apesar de no fundo ser simples, é de complexa explicação. Vou
tentar esclarecer em poucas palavras:
1. Imagine
um índio, que nasceu e viveu toda sua vida numa tribo totalmente isolada, que
nunca teve contato com a civilização. Ele nunca ouviu falar em Jesus Cristo,
nem na Igreja, nem na Escritura, nem em Batismo ou em qualquer outro
Sacramento. Será que ele está condenado ao inferno, por não pertencer à Igreja?
O que a doutrina católica diz é que este homem não será condenado por sua
ignorância e nem por não pertencer à Igreja, – não haveria como ser diferente.
– Este homem, então, será julgado por sua boa ou má vontade, pela sua
disposição interior. Ele poderá, sim, ser salvo, por meios que só Deus conhece.
Ponto.
Até
aqui, sem dificuldades; demonstramos uma face da questão. Mas há um porém muito
importante. A outra face da mesma questão é que, enquanto cristãos, nós cremos
que mesmo aquela pessoa, que nunca ouviu falar em Jesus ou em sua Igreja, se
for salvo, será mediante o Sacrifício de Nosso Senhor, ainda que, por assim
dizer, de modo indireto. Por quê? Porque foi o Cristo e exclusivamente o Cristo
quem possibilitou esta religação a Deus, esta remissão, este resgate da alma
humana ferida pelo Pecado original, para retornar à Casa do Pai, à Comunhão com
seu Criador.
A esta situação muito específica, das pessoas que não tiveram a possibilidade de conhecer a Igreja, a Teologia chama “ignorância invencível”. Como o próprio nome diz, é um desconhecimento a respeito dos meios que propiciam a salvação, que o indivíduo simplesmente não tem condições de superar. Em certos casos (embora aqui estejamos tratando de uma questão muito delicada, com desdobramentos muito próprios e que precisaria de uma análise bem mais apurada), poderíamos aplicar esta mesma condição a uma série de outros casos, como o das pessoas que foram induzidas desde a infância a crer em falsas doutrinas, e o dos simplórios, que por sua incapacidade intelectual não conseguem discernir o certo e o errado, e outros ainda.
A esta situação muito específica, das pessoas que não tiveram a possibilidade de conhecer a Igreja, a Teologia chama “ignorância invencível”. Como o próprio nome diz, é um desconhecimento a respeito dos meios que propiciam a salvação, que o indivíduo simplesmente não tem condições de superar. Em certos casos (embora aqui estejamos tratando de uma questão muito delicada, com desdobramentos muito próprios e que precisaria de uma análise bem mais apurada), poderíamos aplicar esta mesma condição a uma série de outros casos, como o das pessoas que foram induzidas desde a infância a crer em falsas doutrinas, e o dos simplórios, que por sua incapacidade intelectual não conseguem discernir o certo e o errado, e outros ainda.
Claro
até aqui? Cremos que, para alguém que se define como cristão, não é tão
complicado aceitar que todo aquele que chega a se salvar, é sempre por meio do
Sacrifício Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Muito bem, vamos então ao
segundo ponto:
2. A
grande dificuldade que você encontra, e que transparece nos seus comentários,
está no ato de diferenciar o Cristo e sua Igreja. Assim, se eu digo que a
salvação só é possível por Jesus Cristo, você por certo concordará comigo. O problema é que você não identifica Cristo à sua
Igreja. Para você, basta ler a Bíblia,
interpretá-la de modo particular, ouvir uma pregação aqui, fazer suas orações
ali, e pronto: você já se considera cristão e membro do Corpo de Cristo. Nós
católicos, não entendemos assim. Nós cremos, muito concretamente, que a Igreja é a continuidade histórica do Mistério da
Encarnação de Jesus Cristo no mundo.
Falando de modo mais simples, a Igreja é a continuação de Jesus Cristo no
mundo. Jesus está no Céu, mas continua no mundo, em sua Igreja.
Deus tomou forma humana e veio nos
salvar. Por isso, – atenção, – não é pela pregação, por mais bela que seja, que
somos salvos. Também não é por meio de alguma "fórmula mágica" que
Jesus ensinou, ou algum poder especial que Ele nos dá. Não. A salvação se dá pela Pessoa de Jesus Cristo, Deus
Filho, Senhor, Redentor e Salvador nosso.
Sendo assim, nós, católicos, não cremos que toda religião salva, que toda
religião é igual, porque no fundo todas querem a mesma coisa e blábláblá,
como dizem por aí. O homem não é capaz de alcançar Deus por seus próprios
esforços. E, no entanto, é isso que todas as outras religiões representam: o
esforço humano para alcançar Deus. Essa tentativa vem desde a Torre de Babel,
quando os homens (metaforicamente ou não) tentaram erguer uma torre alta o suficiente
para alcançar o céu, onde imaginavam que Deus habitava. E desde aqueles tempos
antiquíssimos, o homem não aprendeu a lição: ele ainda acha que pode chegar a
Deus por seus esforços, seja estudando muito, conversando com
"espíritos" ou lendo e interpretando a Sagrada Escritura por
conta própria. Mas tudo isso é inútil! Só
Jesus salva! E este mesmo Jesus nos deixou sua Igreja, una e indivisível, que é
seu próprio Corpo, sendo Ele mesmo a Cabeça, para a nossa salvação.
Mas, muita atenção, estamos falando de uma Igreja, e não de "muitas igrejas", cada qual seguindo as diferentes interpretações particulares que os seus "pastores" e "pastoras" fazem da Escritura, cada qual ensinando uma doutrina diferente da outra. O Espírito Santo não se contradiz a si mesmo, então, como poderia estar em todas as "igrejas", se umas creem em coisas completamente diferentes das outras?
Umas ensinam que o batismo é necessário para a salvação, outras ensinam o contrário; umas admitem o batismo de crianças, outras dizem que isso é heresia; umas admitem o divórcio, outras dizem que Deus não o admite; umas guardam o sábado, outras não; umas são adeptas das orações barulhentas, com altos berros e pesados instrumentos musicais em seus louvores, outras dizem que isso é contra a Escritura, que prescreve que tudo no culto a Deus deve ser feito com ordem e decência (cf. 1Cor 14,40)...
E já que você se declara batista, veja neste link do que estou falando, ou então neste, ou em qualquer um destes. Estas são algumas opiniões das outras "igrejas" sobre os batistas. E se consultarmos os próprios batistas, estes terão também severas críticas a fazer às outras denominações... – Neste ponto, então, eu é que lhe faço uma pergunta: como é que Deus poderia estar em todas as diferentes "igrejas", se umas contrariam as outras, se cada uma tem a sua própria doutrina, e umas consideram as outras como heréticas?
Esse
desencontro entre denominações protestantes ou ditas "evangélicas"
sempre aconteceu, acontece e vai continuar acontecendo, porque todas elas caem
no mesmo erro primordial, que é observar como única regra de fé e prática a
Escritura. – Porque a Bíblia, mesmo sendo o livro sagrado dos cristãos, assim
como todo livro depende da interpretação que
fazemos dele. Por isso é que a própria Escritura, em passagem alguma, se coloca
como única e exclusiva regra dos cristãos, mas elege a Igreja como “a Casa do
Deus Vivo” e “a coluna e o sustentáculo da Verdade” (1Tm
3,15). Por isso é que Jesus jamais nos orientou a observar exclusivamente
a Bíblia, mas disse claramente que não adianta apenas examinar as Escrituras
para se chegar a Ele (João 5,39-40). E é por isso que o Senhor deu autoridade a
Pedro e aos outros Apóstolos, conferindo-lhes até mesmo o poder para perdoar ou
reter os pecados dos homens.
Retomando nosso raciocínio central, nós sabemos e entendemos que só Jesus salva, e por quê? Porque somente Ele é Deus, que se fez homem e uniu, nEle mesmo, a humanidade a Deus. Ele é a Ponte entre Deus e os homens, porque Ele é a um só tempo as duas coisas: em uma Pessoa, estão a divindade e a humanidade. Assim, só há um modo de o homem ser salvo, que é morrer e nascer novamente em Cristo, e viver em Cristo, ser em Cristo, comungar com Cristo, ser parte do Corpo de Cristo... Que é a Igreja!
Ora, a Igreja é o próprio Corpo de Cristo! Quando S. Paulo Apóstolo teve a visão do Senhor, ouviu a sua voz, que lhe dizia “Por que me persegues?”. – Mas a quem Paulo estava perseguindo? A Jesus? Sim! Mas como isso seria possível, se Jesus já havia sido crucificado e morto, se já estava no Céu, à Direita do Pai, em Glória inacessível? Como Paulo podia perseguir Jesus? Ele podia fazê-lo porque Jesus, mesmo estando no Céu, estava ao mesmo tempo aqui na Terra: Paulo perseguia a Igreja, o Corpo do Senhor, cuja Cabeça é Ele próprio; Igreja que á a continuidade de Cristo no mundo. Por isso, ao perseguir a Igreja, Paulo perseguia o próprio Jesus. Por isso, o Senhor não lhe disse: “Por que persegues os meus servos?”, ou “Por que persegues os meus seguidores?”. Não. O Senhor diz: “Porque ME persegues?”. Perseguir a Igreja é perseguir Jesus, porque a Igreja É Jesus.
Sendo
assim, não se trata de frequentar a “igreja” batista, calvinista, luterana,
universal, mundial, adventista, quadrangular, renovada, etc, etc, etc... Trata-se de pertencer à única Igreja que foi
instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Maria virgem, Filho de Deus
e Deus, Senhor e Salvador de todos.
Você
participa dos cultos na “igreja” batista, ouve as pregações do pastor, estuda a
Bíblia por lá, e se sente bem, acolhido? Sinto muito, mas a "sua
igreja" foi fundada por John Smyth, em 1604, na Holanda, que já começou
errado: estudando a Sagrada Escritura por conta própria, sendo que a própria
Escritura diz que, antes de tudo, devemos saber que “nenhuma profecia da
Escritura é de interpretação particular” (2Pd 1,20). E qual será a Igreja
chamada pela própria Escritura de "Noiva do Senhor" (Ap 21,9),
"Corpo de Cristo" (1Cor 10,16), “Casa do Deus Vivo” e “coluna e o
fundamento da Verdade” (1Tim 3,15)? Ora, que Igreja existia no tempo em que
estas palavras foram escritas, sob a inspiração do Espírito Santo? A única, una
e indivisível Igreja de Nosso Senhor, que é católica (universal), apostólica
(guarda a Tradição dos Apóstolos) e hoje romana (porque sua sede primacial está
em Roma).
Então,
se você aceita e confessa que sem Jesus não há salvação, você está pelo menos a
meio caminho de compreender porque para nós, católicos, sem a Igreja não há
salvação. E que só pode haver uma Igreja, e não "muitas igrejas" que
se contradizem e disputam entre si. A Igreja não é instituição humana,
não é empresa, ainda que seja composta por homens, e os homens sejam
sempre falhos. A Igreja é o próprio Jesus Cristo no mundo. É neste sentido,
fundamentalmente, que cremos que sem a Igreja não há salvação; simplesmente
porque sem Cristo não há salvação.
Finalizando,
quando você diz que acha "egoísta essa linha de pensamento", eu lhe
digo: se é egoísmo crer em Nosso Senhor e integrar a sua Igreja, ser membro do
seu Corpo, como acabei de demonstrar, então continuarei sendo egoísta, com
muita alegria, devoção e amor. E continuarei respeitando quem pensa diferente,
quem não adota a mesma fé, porque é Deus mesmo quem nos dá o direito de
escolher o que quisermos para as nossas vidas, o bem ou o mal, a luz ou as trevas,
a vida ou a morte. Não tenho e nem posso ter a pretensão de privar alguém
da dádiva divina da liberdade. Mas continuarei trabalhando para que todos
entendam que respeitar não é o mesmo que abdicar da obrigação que temos,
enquanto cristãos, de defender a verdade.
Fonte: http://www.ofielcatolico.com.br/
ofielcatolico.com.br
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